domingo, 15 de julho de 2018

O  CONHECIMENTO  INICIÁTICO  DE  ABRAÃO

   Olá a todos! Nesse post vou falar um pouco sobre o que a tradição diz sobre os conhecimentos "ocultos" de Abraão.
   Abraão teria vivido por volta de 2600 a.C. e nascido em Ur na antiga Caudéia, sul da Mesopotâmia, depois fez uma longa migração primeiro para Harã ao norte, e depois para Canaã. Ele é o fundador do que viria a ser o judaísmo, estabeleceu a adoração a um único Deus (em um período em que era comum a adoração a múltiplas divindades) e a circuncisão do membro dos filhos no oitavo dia, além de ser o progenitor da raça judia através de Issac e da raça árabe através de Ismael. A importância dele como patriarca e fundador do monoteísmo é inquestionável, mas, sobre o conhecimento que ele tinha do oculto isso é algo mais reconhecido nos meios cabalísticos do que nas tradições religiosas.
   O pai de Abraão chamado Terah era fabricante de ídolos e ele e seu povo de Ur eram dedicados a adoração a eles, mas, desde jovem Abraão rejeitou tal costume, veja esse trecho do capítulo 19 do Alcorão versículos 41 a 43:

   "E menciona no livro Abraão. Ele era um justo e um profeta. 
   Quando disse ao pai: "Pai, porque adoras aquilo que não ouve nem vê e em nada pode beneficiar-te?
   Pai, foram-me revelados conhecimentos que não te foram revelados. Segue-me, pois: conduzir-te-ei numa senda reta."

   A resposta de seu pai está no versículo 46 desse capítulo:

   "Disse o pai: "Rejeitas meus deuses, ó Abraão? Se não te emendas, apedrejar-te-ei. Afasta-te de mim por um tempo."

   No capítulo 21 do Alcorão versículos 52 a 54 Abraão questiona seu povo:

   "Quando perguntou a seu pai e a seu povo: "Que são essas estátuas às quais estais apegados?"
   Responderam: "Nossos antepassados as adoravam."
   Replicou: "Vós e vossos antepassados tendes estado num erro evidente."

   Abraão não apenas questionou a adoração de seu povo como também reduziu a cacos as estátuas de seus ídolos como mostra os versículos 57 a 58 desse capítulo:

   "Disse Abraão: "Por Deus! Armarei um ardil contra vossos ídolos assim que tiverdes voltado as costas."
   Reduziu-os a pedaços, com efeito, menos o maior dentre eles, persuadido que voltariam a ele." 

   Madame Blavatsky em sua "Doutrina Secreta" diz que haviam métodos de se obter respostas desses ídolos e que tais ídolos chamados "terafins" ainda continuaram a serem usados pelos hebreus por um bom tempo. Mas, a Caudéia e outras regiões e civilizações próximas como a civilização babilônica e suméria também foram berço da astrologia e as bases dessa astrologia podem ser notadas na astrologia ocidental ainda existente. Aquele era um povo de contempladores de astros e Abraão teve fascinação pelos astros também quando jovem como evidencia o capítulo 6 do Alcorão versículos 76 a 78:

   "Quando a noite o envolveu, viu uma estrela e disse: "Eis meu Senhor." Depois quando a lua se pôs disse: "Se meu Senhor não me guiar, serei um dos desencaminhados."
   E quando viu o sol se levantar disse: "Eis meu Senhor! Este é maior que os dois outros." E quando o sol se pôs, disse: "Povo meu, sou inocente do que associais a Deus."

   Mesmo depois de emigrar para Canaã e aceitar o "Deus único" Abraão ainda manteve um grande conhecimento e fascínio pela astrologia como diz o Talmud: "Abraão tinha muita astrologia em seu coração, e todos os reis do leste e do oeste se apresentavam a sua porta.". Flávio Josefo do qual falei no post anterior confirma que Abraão era um dos maiores conhecedores dessa ciência de seu tempo. Os astrólogos caldeus gozaram de certa notabilidade por um tempo nas cortes dos césares romanos fazendo espantosas previsões acertadas, mas, caíram em desgraça e foram expulsos de lá depois. A primeira etapa da migração de Abraão foi até Harã, depois seguiu para Canaã veja a ilustração de sua trajetória:
    Os cabalistas creditam a Abraão a autoria do livro "Sêfer Yetsirá" o "Livro da Formação" mais antigo e um dos fundamentais livros da cabala. Comumente nas versões desse livro logo no fim se diz que foi escrito por Abraão. Uma das atribuições a quem domina completamente os mistérios desse livro é a capacidade de fabricar um "golem" um tipo de "servidor vivo" criado do barro. Falei sobre o golem e o modo como a cultura pop atual o retrata no meu livro "O Conhecimento da Cabala" disponível no site www.clubedeautores.com.br link á direita desse blog. De acordo com os cabalistas, esse conhecimento Abraão adquiriu depois de sua migração, em Harã, os cabalistas citam o capítulo 12 do Gênesis versículo 5:

   "Tomou Sarai, sua mulher, e Ló, filho de seu irmão, assim como todos os bens que possuíam e os escravos que tinham adquirido em Harã, e partiram para a terra de Canaã."

   Transcrevi esse trecho como está em uma Bíblia cristã comum, mas, os cabalistas interpretam assim: "...Abraão tomou todos os bens que possuíam e as almas que tinham fabricado em Harã e partiram para Canaã" dando a entender que Abraão fabricou "servidores escravos" ali e partiu com eles. O Sêfer Yetsirá sobre o qual também falei no meu livro inclusive fazendo comentários gerais sobre os principais trechos merece ser destrinchado com mais cuidado em um futuro post aqui no blog, mas, devo adiantar que era um recurso muito comum atribuir a autoria de um livro a um personagem famoso da antiguidade sobretudo quando apenas circulavam manuscritos não livros com o formato atual. Além disso, as várias versões do Sêfer Yetsirá foram ajustadas pelos seus copiadores para conterem elementos de judaísmo, da classificação das letras hebraicas (uma invenção posterior tanto as letras hebraicas quanto o idioma hebraico pois a língua materna de Abraão era caudéia apesar de semelhante ao hebraico moderno) e conceitos cabalísticos posteriores, são adaptações de um texto realmente antigo como as muitas referências a ele desde o séc. VI d.C confirmam. Blavatsky afirma que ele é um extrato do "Livro Caldeu dos Números" a primeira parte dele que encerra a "verdadeira" cabala ainda mantida por uma sociedade sufi do oriente e diferente da cabala conhecida e praticada pelos cabalistas ocidentais judeus e cristãos. 
   As atribuições de conhecimentos ocultos a Abraão não terminam por aí, na versão comentada do Sêfer Yetsirá de autoria de Arieh Kaplan (a que eu mais recomendo aos principiantes interessados) ele diz: "Abraão era também plenamente consciente dos usos mágicos e idólatras que podiam desenvolver-se a partir desses mistérios. O Talmud nos diz que Abraão tinha um tratado de idolatria que constava de 400 capítulos." Kaplan menciona que Abraão teria transmitido seus conhecimentos ocultos a seus filhos, assim, tal conhecimento permaneceu entre os judeus. Fabricar um golem é apenas um dos atributos do Sêfer Yetsirá, Kaplan menciona que outros adeptos usavam os conhecimentos desse livro para fabricar animais como novilhos por exemplo e os matavam na sexta e consumiam. Há evidente significado nisso já que de acordo com o Gênesis os mamíferos foram criados no sexto dia. Kaplan também diz que a fabricação de novilhos era uma das coisas "erradas" que José viu seus irmãos fazendo e contou a seu pai Jacó. Assim sendo, o reconhecimento de Abraão como um "iniciado" em mistérios ocultos é coisa bem estabelecida entre os cabalistas.
   Mas uma passagem obscura sobre um personagem misterioso que aparece na Bíblia vale ser registrada aqui e seu contato com Abraão, é o chamado "Melquisedec, rei de Salém". Josefo coloca esse personagem como rei de Jerusalém, o que não é muito correto. Essa passagem se encontra em Gênesis cap. 14 versículos 18 a 20:

   "Melquisedec, rei de Salém e sacerdote do Deus Altíssimo, mandou trazer pão e vinho, e abençoou Abraão, dizendo: "Bendito seja Abraão pelo Deus Autíssimo, que criou o céu e a terra! Bendito seja o Deus altíssimo, que entregou os teus inimigos em tuas mãos!" E Abraão deu-lhe o dízimo de tudo."

   Esse personagem aparece logo após certos reis que faziam guerra entre si sequestrarem o sobrinho de Abraão Ló, Abraão escolheu 318 homens corajosos e foi até o local a noite matando os saqueadores e recobrando os bens e libertando os prisioneiros. Uma representação dessa acolhida com pão e vinho de Melquisedec após o resgate vitorioso de Abraão:
   Melquisedek também é citado no Salmo 109 versículo 4:

   "O Senhor jurou e não se arrependerá:
   Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedec."

   Na carta de Paulo aos Hebreus esse também menciona Melquisedec. Mas quem era Melquisedec? O que ele celebrou com pão e vinho? (certos intérpretes dizem que é um prelúdio a Eucaristia de Cristo) e porque Abraão deu uma parte dos espólios a ele como dízimo? A primeira coisa a se considerar é o significado do nome desse personagem, Melquisedec é a junção de duas palavras: "malik" (significa "rei") e "tsadik" (significa "justo") portanto Melquisedec significa "rei justo". É mais lógico supor que ele não fosse exatamente um "rei" e sim um tipo de autoridade religiosa. Eu não me estenderei nas múltiplas teorias em torno desse personagem mas, citando uma delas é dito que ele representa uma organização antiquíssima cujo objetivo é manter o "status quo" a ordem vigente das coisas e que tal líder viveria em uma cidade subterrânea na Ásia Central chamada Shambala. Fica em aberto aos interessados em pesquisar. Assim encerro esse post sobre os conhecimentos ocultos de Abraão.
                          

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