quinta-feira, 20 de junho de 2019

O BAHIR,O LIVRO DA ILUMINAÇÃO

   Olá pessoal! Nesse post vou fazer uma resenha sobre o Bahir, texto muito importante da cabala.
   Dentre as várias edições disponíveis a que eu mais indico é da editora Polar lançado em 2018, está muito bem feita: capa, papel, diagramação, tudo. Além disso foi traduzida a partir da versão em inglês com comentários de Aryeh Kaplan (1934-1983) e versão escrita em hebraico inclusa. Foi graças a esse grande erudito que vários textos importantíssimos da tradição cabalística que apenas circulavam de maneira restrita em hebraico entre adeptos se tornaram disponíveis ao grande público e com comentários de quem possui embasamento e domínio sobre o tema. Aryeh Kaplan foi certamente um dos maiores cabalistas da era moderna e sua vida e realizações merecem um resumo por aqui, quando puder tentarei prestar essa modesta homenagem a ele. 
   O "Bahir" (sefer ha bahir-significa "livro brilhante", ás vezes chamado também de "livro da iluminação" ou "Midrash do Rabi Nehunia") se não é um dos textos base da cabala menos conhecidos, possivelmente é dos menos divulgados se comparado ao Sefer Yetsirá e ao Zohar. Sua autoria costuma ser atribuída ao sábio e místico judeu do séc. I Nehunya ben Hakanah. ben Hakanah nasceu em Emaús, tinha vários servos embora parecesse ter uma atitude desleixada em relação ao dinheiro e viveu até uma idade muito avançada. Existem citações a respeito de halachá (interpretação da lei judaica) atribuídas a ben Kakanah no Talmud. Também no Hechalot (texto principal relativo a "merkabah" técnica de ascensão espiritual) se menciona ben Hakanah como ensinando essas técnicas e também ascendendo aos planos superiores para averiguar a razão de ter surgido uma lei que mandava matar todos os sábios. A ele é atribuída a criação da oração "Ana Beoach" cujas letras iniciais formam o "nome de 42 letras". Ele foi certamente um mestre em misticismo de sua geração e é mencionado logo no início do Bahir. Também se menciona no texto vários outros sábios que fazem dissertações sobre vários temas. Durante muito tempo o Bahir permaneceu apenas nas mãos de um grupo restrito de adeptos judeus, e, outros sábios mesmo sendo estudantes de cabala sequer conheceram-no. Quando uma importante escola cabalística se mudou para Provença na França, eles tomaram a decisão de divulgar o Bahir por volta do ano 1100, foi primeiramente publicado em 1176. Edição da editora Polar:

   Quanto á estrutura, trata-se de um texto pequeno composto de 200 versículos, foi escrito na forma de uma discussão entre sábios onde cada um fala sobre um assunto ou comenta um trecho da Torá. A uma primeira olhada o texto pode parecer confuso, sem uma estrutura consistente e evasivo. Mas, uma leitura mais meticulosa revela que certos tópicos são tratados de forma consistente, começando por comentários sobre a criação e outros trechos da Torá, depois sobre as primeiras letras do alfabeto hebraico, explicação de conceitos relacionados ás séfiras da árvore da vida e termina abordando sobre mistérios relacionados á alma e até menções á reencarnação, tudo isso entrecortado com citações esporádicas á personagens bíblicos e interpretações de fora da Torá sobre passagens narrado sobre eles. O estilo do texto lembra e muito o Zohar e não por acaso: Aryeh Kaplan comenta que Shimon bar Yochai teve contato com a escola de ben Hakanah. Mas, diferente do Zohar que realmente parece evasivo e disperso, no Bahir os ensinamentos estão mais compactados. Raba e Rav Zeira que também são mencionados no Talmud como tendo realmente criado um golem são mencionados no Bahir, por isso se especula que a redação final do texto pode ter sido feita pelos Amorains, os últimos sábios a comporem o Talmud no séc. IV. 
   O Bahir não é, certamente, um texto para ser lido de forma leviana ou por lazer para "matar o tempo", sugere-se que o estudante realmente comprometido leia de forma reflexiva, só nesse estado se consegue alcançar o real significado do que é tratado ali. Apesar dessa edição contar na segunda parte com comentários de Aryeh Kaplan, o mais recomendado é o estudante ler e escrever sua própria interpretação. O conteúdo cabalístico do Bahir torna ele um livro muito importante dentro desse corpo de conhecimentos e os cabalistas sérios considerarão esse um trabalho de referência.