sábado, 23 de março de 2019

ABRAHAM  ABULÁFIA  E  A  CABALA  PROFÉTICA (OU "ESTÁTICA")

   Olá pessoal! Nesse post vou falar de modo resumido sobre um dos grandes cabalistas do passado o rabino Abraham Abuláfia.
   Abuláfia nasceu em 1240 na Espanha e faleceu em 1291. A princípio esses números podem parecer desprovidos de significado, porém, o ano de 1240 do nosso calendário cristão equivale ao ano 5000 do calendário hebraico. Abuláfia estava ciente disso e afirmava que havia nascido com uma missão especial: a de disponibilizar ao grande público as técnicas meditativas dos antigos profetas. Em 1258 o pai de Abuláfia que o havia instruído nas interpretações da Torá e do Talmud faleceu. Dois anos depois Abuláfia começou uma vida errante viajando para vários lugares. Ele pretendia ir para Israel, mas, chegou apenas até a cidade de Aco pois havia em Israel muito conflito entre os cristãos e muçulmanos. Ao retornar á Espanha passando pela Grécia resolveu se casar. Em alguns de seus escritos Abuláfia fala sobre o esforço que teve que fazer durante quinze anos para conseguir abandonar o hábito de se masturbar. Vale mencionar que muitos mestres espirituais já tiveram problemas desse tipo. Quando passou pela Itália se dedicou a estudar o livro "Guia dos Perplexos" de Maimônides um livro em que o autor busca conciliar a filosofia de Aristóteles com a teologia judaica. Abuláfia foi apresentado a esse livro pelo rabino Hilel de Verona. Quando retornou á Espanha passou a receber visões. Foi iniciado no livro "Sêfer Yetsirá" pelo rabino Baruch Torgami. Ele disse que a iniciação no Sêfer Yetsirá foi uma das mais marcantes de sua vida. Diferente de outras autoridades judaicas que desprezavam completamente os cristão (chamados desdenhosamente de "gentios") Abuláfia teve discussões enriquecedoras com eles a respeito de religião e inclusive elogiou a perspicácia de muitos deles, mas, sentiu total aversão a ideia de "Trindade" que ele considerou pagã. Em sua passagem por Castela teve por discípulo Josef Gikatalia (1248-1323) autor de "Shaarê Orá" ("portões de luz" em hebraico) uma das mais importantes obras escritas sobre cabala. Com relação a seu sistema de cabala, Abuláfia teve contato com o sistema que faz uso das séfiras, mas, não gostou muito pois achava que conduzia a uma quase idolatria onde se considera as séfiras quase como entidades. Ao invés disso, ele dava preferência a um sistema que faz uso das 22 letras do alfabeto hebraico muito influenciado pelo Sêfer Yetsirá. Ele dizia que eram dois sistemas diferentes: um das dez séfiras e outro das 22 letras. Seu sistema levava a induzir a um elevado estado mental, começando por permutar as letras de uma palavra o máximo possível de forma escrita. Incluía a pronúncia das permutações das letras com "nomes divinos" e movimentos específicos com a cabeça de acordo com a posição dos pontos vocálicos que definem as vogais das letras hebraicas além do controle da respiração. Através desse método o praticante experienciava uma marcante experiencia mística (que pode ser bem assustadora para os não preparados) na qual ele sentia como se seu corpo fosse inundado de luz e um espírito se projetasse na sua frente na forma de um homem e lhe revelava mistérios divinos. Ele chamava seu método de "cabala dos nomes" em referência aos "nomes divinos" típicos da cabala, porém, acabou ficando conhecido como "cabala profética" ou "cabala estática". Ele dizia que tais técnicas meditativas eram as mesmas usadas pelos profetas da antiguidade. Em 1280 Abuláfia se sentiu impulsionado a ir a Roma para converter o papa que era Nicolás III ao judaísmo. Ao saber da intenção de Abuláfia o papa mandou preparar sua execução pública como herege, mas, ele morreu de um ataque de epilepsia uma noite antes de Abuláfia chegar. Abuláfia permaneceu preso por pouco tempo, depois se dirigiu á Sicília. Lá, se apresentava como um tipo de profeta ou messias o que atraiu a hostilidade dos rabinos locais. Esses rabinos começaram uma campanha com pesados ataques contra ele chamando-o de idiota e louco e depreciando seus ensinamentos. Esses ataques se deviam não por Abuláfia estar ensinando práticas contrárias a religião judaica, mas, por causa da grande reserva que esses rabinos tinham em relação ao conhecimento cabalístico até então nunca disponível para para o público em geral. Em 1288 foi forçado a sair para a pequena ilha de Comino perto de Malta onde passou seus últimos dias. 
   Abuláfia escreveu prolificamente, mesmo durante momentos difíceis nunca deixou de escrever sobre seus métodos e ensinamentos e assim deixou uma grande quantidade de manuscritos. Vários desses manuscritos ou cópias deles foram parar em museus de vários lugares. Alguns se conservam em coleções e bibliotecas particulares de cabalistas judeus que se recusam a dar publicidade a isso. Abuláfia falou sobre métodos meditativos muito avançados, muitos já eram conhecidos antes dele mas apenas ele teve coragem de divulgar. A autenticidade de seus métodos pode ser comprovada pelo fato de muitos eminentes cabalistas que vieram depois aprovarem e até fazerem uso desses métodos. Imagem de seu livro Hayyei ha-Olam também chamado "Chaiê Olam Habá" (significa "vida no mundo futuro"):