domingo, 29 de julho de 2018

O  QUE  É  A  "ÁRVORE  DA  VIDA"?

   Olá pessoal! Vou falar nesse post sobre um diagrama que costuma ser reconhecido até pelos leigos como estando relacionado a cabala, o diagrama conhecido como "árvore da vida".
   Existem inúmeras variações desse diagrama, mas a mais simples é a forma de dez bolinhas (chamadas de "séphirot" embora eu costume usar mais o termo "séfiras") ligadas por "caminhos" e algumas representações desse diagrama apresentam uma décima primeira séfira representada oculta chamada "daath". Eu escolhi uma forma bem simples desse diagrama para a capa do meu livro veja:
   Não se sabe ao certo qual a origem desse diagrama. Alan Moore em sua pesquisa para um livro tipo "grimório" disse que os gregos seguidores de Pitágoras já conheciam a árvore da vida porém com apenas sete séfiras e que os judeus acrescentaram mais três para formar dez que é um número mais significativo para eles pois está relacionado aos dez mandamentos. O que se sabe é que esse conhecimento permaneceu preservado apenas oralmente e durante muito tempo ninguém escreveu sobre isso, apenas em meados da Idade Média e Renascença que alguns cabalistas escreveram, publicaram e comentaram sobre a árvore da vida. 
   É possível distinguir elementos altamente significativos na forma básica desse diagrama, um deles a imagem chamada "flor da vida" é uma imagem básica na formação das formas da natureza, a flor da vida:
   Entre outros lugares da natureza, essa é a forma que surge quando as células do nosso corpo estão se dividindo após a fecundação do óvulo pelo espermatozóide. Em uma imagem ampliada formada por várias flores da vida lá se torna visível facilmente uma estrutura da árvore da vida, veja:
   Especula-se que os nomes das séfiras tenham sido extraídos da Torá quando nela se menciona termos como "fundamento" (séfira "yessod"), entendimento (séfira "chocmá") ou reino (séfira "malcut"). Um dos trabalhos responsáveis por tornar a árvore da vida, as séfiras e os "nomes divinos" relacionados ás séfiras públicos é o livro "Portões de Luz" do rabino cabalista Josef Gikatalia (1248-1323) tal livro foi um dos primeiros a difundir princípios cabalísticos ao grande público, foi publicado em latim e influenciou muitos cabalistas cristãos, capa dele:
   Gikatalia estudou com Abraham Abuláfia (1240-1291) um dos maiores cabalistas e Abuláfia elogia a inteligência de Gikatalia em um de seus escritos. Na minha opinião, um dos melhores trabalhos que explicam as muitas formas de se aplicar os conceitos do diagrama da árvore da vida é o livro "A Árvore da Vida" de Shimon Halevi:
   Uma das aplicações desse diagrama é como método de implantação, refinamento e uso otimizado de qualquer projeto. Concebe-se uma ideia qualquer e aplica-se esse projeto no diagrama começando pela séfira mais baixa "malcut" e então vai se aperfeiçoando esse conceito subindo e passando pelas outras séfiras até que se atinge o aperfeiçoamento dessa ideia e se manifesta ela da melhor maneira possível em nosso plano material. Alguns conceitos básicos desse diagrama (para explicações mais aprofundadas recomenda-se os livros citados) é que a árvore tem basicamente três pilares, cada pilar representa um princípio e as séfiras de cada um desses pilares estão alinhadas com esse princípio. O pilar da direita representa a "misericórdia" o desejo de compartilhar, o pilar da esquerda representa a "severidade" a auto-crítica e o pilar do centro representa o "equilíbrio" entre o desejo de compartilhar e de se acumular para si. Como cada séfira representa um princípio, é possível fazer muitas associações á cada uma delas como associá-las a deuses pagãos por exemplo por causa dos aspectos de cada uma. Tradicionalmente cada uma delas é associada a um "nome de Deus" em hebraico como "Adonai", "Eloim" e outros. Outros atributos das séfiras é a cores distintas, astros relacionadas a característica de cada uma, e inclusive os "caminhos" também chamados "túneis" que ligam as séfiras a cada um é associado uma das 22 letras hebraicas. Interpretações modernas também associam cada uma das 22 cartas do tarô á esses caminhos. Essa ilustração mostra todos vários desses atributos do diagrama:
   Abuláfia havia notado uma mistificação exagerada desse diagrama semelhante a uma quase idolatria dizia: "-Os cristãos acreditam nos três (conceito de "Trindade") e os outros acreditam nos dez (as séfiras)." Mais do que isso, ele dizia que os conceitos da árvore da vida e os conceitos relacionados ao livro "Sefêr Yetsirá" eram escolas diferentes, assim, havia uma "cabala das séfiras" e uma "cabala das letras". Entretanto, isso não significa que ele descartasse os conceitos da árvore da vida, ele entendia que poderiam ser usados como uma escala para se atingir estados meditativos específicos, dos mais baixos até os mais elevados. 
   Como tudo no universo possui um lado positivo e um lado negativo, também a árvore da vida possui uma versão negativa, é a chamada "árvore da morte" onde são consideradas os aspectos negativos das séfiras. Esse sistema é o usado na ordem esotérica "Dragon Rouge" é a chamada "cabala draconiana", veja os nomes associados as séfiras nesse sistema:
   Na Dragon Rouge os adeptos são estimulados a encararem seus próprios aspectos negativos e com responsabilidade ao invés de os reprimirem. Para saber mais sobre esses conceitos da cabala draconiana recomendo o livro "A Cabala Draconiana" escrito por Adriano Camargo Monteiro, brasileiro que atingiu graus elevados na Dragon Rouge:
   Muitas são as interpretações e aplicações da árvore da vida, novamente recomendo aos interessados que estudem as obras citadas e se aprofundem nelas para compreenderem melhor os conceitos e interpretações da árvore da vida.

terça-feira, 24 de julho de 2018

CODIFICAÇÕES  CABALÍSTICAS  DE  LETRAS  E  NÚMEROS

   Olá a todos! Nos posts anteriores eu falei mais sobre o simbolismo de certos elementos do judaísmo, nesse vou falar de algumas técnicas usadas na cabala o segmento esotérico do judaísmo.
   Eu já li e ouvi muitos comentários de pessoas que despertam algum interesse por cabala por causa das codificações de letras e números muito associadas a cabala, existem até pessoas leigas no assunto que pensam que cabala se resume a essas codificações o que não é correto, talvez essa seja a origem da expressão "números cabalísticos". Posso afirmar que de fato essas codificações e permutações de letras e números tem muita importância na cabala mas tais codificações seguem padrões e fórmulas, falarei de algumas nesse post.
   As letras são muito consideradas na cabala, especificamente as letras hebraicas com as quais a Torá foi escrita, para ter uma noção da origem dessas letras recomendo aos leitores darem uma olhada em um post anterior desse mesmo blog intitulado "O  ALFABETO  HEBRAICO". Na tradição judaica cada uma das 22 letras tem um valor numérico, veja essa tabela com as 22 letras hebraicas e o valor numérico de cada uma:

   É importante explicar que as 22 letras tradicionais vão até a letra "tav" cujo valor é 400, as cinco letras depois dessa nessa tabela são outras versões das chamadas "letras duplas" que tem formas diferentes quando estão no meio ou no fim das palavras, nesse caso essa tabela mostra a forma das letras do final das palavras "caf" valor 500, "mem" valor 600, "num" valor 700, "phê" valor 800 e "tsadik" valor 900, por isso essas letras quando estão no início ou meio das palavras tem outra forma e outro valor numérico. Considerando-se que cada letra hebraica tem um valor, então os cabalistas somam o valor numérico das letras de uma palavra, dessa forma eles encontram o valor numérico de uma palavra. Usando esse método é possível encontrar o valor numérico de qualquer palavra mas deve estar escrita em hebraico com letras hebraicas. Quando se encontra o valor numérico de uma palavra, o cabalista compara ao valor numérico de outra palavra, se for o mesmo número então ele considera que essas duas palavras são equivalentes mesmo que sejam palavras que não tenham nada a ver uma com a outra, por terem o mesmo valor numérico se considera que elas tem a mesma "essência". Esse método de codificação é muito usado pelos cabalistas e é chamado de "gematria". 
   Um outro método de codificação muito usado pelos cabalistas é o chamado de "notarikon". Esse método é bem simples e consiste em pegar as primeiras letras ou sílabas de uma frase e formar uma palavra só. Os judeus usam para se referir ao livro de Gênesis chamando-o de "Bereshit" pois é a primeira frase desse livro "No princípio" formada pela letra "beth" que significa "no" ou "na" e "reshit" formada pelas letras "resh", "alef", "shim" "iod" e "tav" que significa "início" ou "cabeça". Outra forma de uso de notarikon é como os judeus se referem ao conjunto de seus livros sagrados, eles costumam chamar de "Tanakh" que é a forma abreviada de "Torá" que significa "ensino" e consiste nos primeiros cinco livros bíblicos chamados de Pentateuco pelos cristãos, "Nevin" que significa "profetas" se refere aos livros bíblicos que tem por título o nome dos profetas e "Ketuvim" que significa "escritos" se referindo aos demais livros como Salmos por exemplo. Esse método costuma ser aplicado como sinal de grande distinção aos nomes dos grandes cabalistas por exemplo: o rabino cabalista Moisés Cordovero ganhou o título de RAMAC composto das letras "resh" "mem" e "cof" iniciais de "Rabi Moses Cordovero" em hebraico. O rabino cabalista Isaac Luria ganhou o título de ARI em hebraico as letras "aleph" "resh" "iod" iniciais de "Elohi Rabênu Yits'chac" que significa "divino mestre Isaac". ARI também significa "leão" em hebraico por isso ás vezes é chamado de "Leão de Safed" em referência a cidade de Safed onde viveu. O rabino cabalista Judá Loew ben Betzalel ganhou o título de Maharal formado das iniciais da expressão "Moreinu Ha-Rav Loew" que significa "nosso professor rabi Loew". 
   Outro método de codificação cabalística é o chamado "atbash" que consiste em pegar uma palavra e considerar as letras dessa palavra equivalentes em uma sequência invertida da sequência tradicional de alfabeto hebraico. Por exemplo: a palavra "pai" em hebraico é "aba" composta das letras "aleph" "beth" "aleph", aplicando-se a codificação "atbash" "aba" se transformaria em uma palavra composta das letras "tav" "shim" "tav" pois no método "atbash" a letra equivalente a "aleph" que é a primeira na sequência normal do alfabeto hebraico seria a última letra "tav" e a letra "beth" que é a segunda na sequ~encia normal seria equivalente a letra "shim" que é a penúltima na sequência normal do alfabeto hebraico. 
   Em relação a "permutação de letras" trata-se de técnicas para formar combinações diferentes das letras de uma palavra. Essa técnica é usada para se alcançar a essência mais profunda de uma palavra e estados meditativos. O adepto escreve uma palavra em hebraico e depois escreve todas as possíveis variações dessa palavra com as letras dela em diferentes posições. O cabalista Abraham Abuláfia considerava essa técnica a melhor para se entrar em estados meditativos profundos. Uma variação desse método é pegar uma palavra e permutá-la, o mesmo que combiná-la, com outra palavra o máximo de combinações diferentes possíveis. Técnicas assim podem ser feitas verbalmente para se induzir a estados meditativos e era o que Abuláfia fazia, mas, deve-se ter cautela ao se fazer permutações verbais com nomes divinos típicos da tradição cabalística como o tetragrama e Adonai por exemplo. O local onde permutações de letras é mais requisitado é nas técnicas práticas relacionadas ao livro "Sêfer Yetsirá" nessas técnicas as letras podem ser permutadas verbalmente ou se visualizando as combinações delas para propósitos ocultos. Assim encerro algumas explicações sobre codificações de letras e números típicas da cabala. 
   

quinta-feira, 19 de julho de 2018

A  LÍNGUA  HEBRAICA

   Olá pessoal! No post anterior eu falei sobre as letras hebraicas, então, nada mais justo do que falar agora sobre o idioma hebraico e principalmente desmitificar alguns conceitos que costumam ser atribuídos a essa língua.
   Da mesma forma que o alfabeto hebraico é considerado pelos adeptos como um alfabeto "sagrado" ou muito propício ás práticas ocultas, também a língua hebraica é considerada uma língua "sagrada" e usada para propósitos ocultistas. É a língua própria dos judeus e com a qual foi escrita a Torá. Porém, da mesma forma que os hebreus tiveram que se mudar para várias nações através dos milhares de anos de sua existência, também houve uma evolução no idioma hebreu, basicamente os ditos "hebreus" falavam as línguas dos povos com os quais conviveram e a língua hebraica tal qual é conhecida hoje em dia é uma adaptação moderna. É uma língua de raiz semítica (palavra que remete a "Sem" um dos três filhos de Noé) portanto outras línguas da mesma raiz se assemelham a ela como o árabe e o siríaco. 
   Considerando-se que a "nação" judaica começou com Abraão, então realmente não é correto supor que o hebraico seja a língua materna dos judeus, pois, Abraão nasceu na Caudéia sul da Mesopotâmia e sua língua materna era o caldeu, embora seja provável que o caldeu tenha algumas semelhanças com o hebraico moderno. Nos tempos em que os hebreus viveram no Egito, eles falavam o idioma egípcio e possivelmente preservaram um dialeto próprio que só usassem em casa com seus parentes. Com a dispersão dos judeus pelo mundo, eles adotaram as línguas dos outros povos e pode-se dizer que o hebraico era usado apenas como língua "litúrgica" nos cultos religiosos.
   Muitos afirmam, o que dá grande orgulho aos judeus, que o hebraico ou um idioma semelhante ao hebraico foi a língua "original" da raça humana que Adão falava e com a qual deu nome aos animais e as plantas. Mas como já disse, o hebraico é uma adaptação moderna. Madame Blavatsky menciona muitas vezes um suposto idioma universal conhecido pelos grandes iniciados e o próprio coronel Olcott a ouviu algumas vezes se comunicar nessa língua desconhecida com certos adeptos. Em relação ao hebraico, essas são as ressalvas que ela faz em seu livro "A Doutrina Secreta" volume V:

   "Mas os cinco livros hoje conhecidos com o nome de Pentateuco não são os anais mosaicos originais. Nem foram escritos nos antigos caracteres hebreus quadrados, nem tampouco nos caracteres samaritanos, pois ambos os alfabetos datam de época posterior á Moisés, e o hebraico -como hoje se sabe- não existia no tempo do grande legislador, nem como idioma nem como alfabeto."

   Outra citação da mesma obra:

   "O verdadeiro idioma dos hebreus no tempo de Moisés perdeu-se durante o cativeiro, quando os israelitas permaneceram entre os caldeus, e a língua destes foi então enxertada no hebraico, resultando dessa fusão uma variedade dialética do caldeu, com um ligeiro colorido do idioma hebreu, que daí em diante deixou de ser falado."

   Mais uma citação:

   "Diz-se que o hebraico é um idioma antiquíssimo, mas dele não há sinal algum nos velhos monumentos, nem sequer na Caldéia. Entre as numerosas inscrições, de várias espécies, encontradas nas ruínas desse país, 'nunca se descobriu uma só que fosse em língua e caracteres caldeu-hebraicos, nem medalha ou jóia autêntica que contivesse esse caracteres de nova invenção, e se pudesse atribuir pelo menos à época de Jesus'". 

   Embora diluído e misturado com outros dialetos, a língua dos antigos hebreus pode ser encontrada no chamado aramaico. A língua materna de Jesus e com a qual ele se dirigia ao povo e seus seguidores era um aramaico antigo, mas, semelhante ao aramaico ainda preservado hoje em dia. Os judeus que viveram na Península Ibérica (Portugal e Espanha) denominados judeus sefarditas desenvolveram um dialeto próprio chamado "ladino" que é como uma mistura do espanhol com hebraico. Já os judeus da região da Alemanha e países da Europa Oriental desenvolveram o dialeto chamado "yidish" que mistura o idioma alemão com hebraico. O hebraico tal qual é conhecido nos dias de hoje é resultado do esforço de reconstrução do linguista  Eliezer ben Yehuda (1858-1922) nascido na região da Bielorrússia. Yehuda notou as revoluções de sua época e decidiu que o povo hebreu deveria se fortalecer reconstruído sua língua original e usando-a durante os afazeres do dia-a-dia não apenas nos ritos religiosos. Foto de Eliezer ben Yehuda:
   Certamente não deve ter sido uma tarefa fácil pois o hebraico estava "diluído" e misturado com outros dialetos, por isso ele teve que recorrer a livros antigos. Uma das suas grandes contribuições foi a publicação de um dicionário de hebraico "Dicionário Completo do Hebraico Antigo e Moderno" e a publicação de um jornal completamente em hebraico. Ele era rigoroso com o ensino do hebraico ao seu filho e só admitia que ele ouvisse conversação em hebraico para que tivesse-a como língua materna. Faleceu de tuberculose em Israel.
   Assim, concluímos essa dissertação sobre a língua hebraica, que, como o leitor pode ver, é uma reconstrução moderna de um dialeto antigo e não exatamente a língua original dos judeus falada pelos patriarcas Abraão, Moisés ou Jesus, mas algo semelhante a ela.  

terça-feira, 17 de julho de 2018

O  ALFABETO  HEBRAICO

   Olá pessoal! Nesse post vou falar um pouco sobre as letras do alfabeto hebraico.
   Dentro do ocultismo em geral as letras não são consideradas apenas símbolos que representam sons usadas para registrar textos, muitos significados costumam serem atribuídos a cada letra e inclusive um valor numérico. É muito comum no ocultismo os chamados "alfabetos mágicos" são caracteres que não costumam serem usados em textos distribuídos ás massas, mas, usados com propósitos específicos e geralmente a correspondência ás letras latinas só é conhecido do próprio ocultista, mas, muitos são bem populares e conhecidos como o chamado "alfabeto de Paracelso" (também chamado "alfabeto de Cagliostro" ou "alfabeto dos magos") o "alfabeto celestial" e "alfabeto de passagem do rio" (todos encontrados em versões atuais da "Clavícula de Salomão"). Cada símbolo tem sua "carga" sua "vibração" própria e alguns alfabetos são considerados mais adequados para se fazer certas inscrições com propósitos magísticos, são alfabetos especiais. Nem sempre é possível encontrar letras do nosso alfabeto latino que sejam equivalente as letras de outros alfabetos, por isso os tradutores costumam colocar letras latinas que eles acham que mais se parecem. A importância "magística" das letras é claramente vista na tradição nórdica, as chamadas "runas" as letras usadas pelos povos escandinavos eram consideradas mais do que símbolos para escrita. No mito de Odin o líder do panteão nórdico se submeteu espontaneamente a um sacrifício ficando nove dias e nove noites pendurado no topo da árvore do universo "Yggdrasil", após isso ele recebeu o conhecimento das runas, elas surgiram para ele e ele as agarrou e trouxe aos homens como um presente. Em certas narrativas Odin "recita" as runas para realizar um encantamento, qualquer semelhança com o uso das letras hebraicas para usos magísticos como no livro "Sefer Yestsirá" pode não ser mera coincidência. 
   Falando especificamente sobre as letras hebraicas, as usadas atualmente são 22. Não existem vogais na gramática hebraica, todas são consoantes, o que as faz ter som de vogal são pontos específicos colocados nelas. Quatro delas são consideradas "letras duplas" pois tem uma forma no início ou meio das palavras e outra forma quando são colocadas no fim das palavras são as letras "mem", "num", "tdsadik", "phê" e "caf". Informações mais aprofundadas sobre as letras hebraicas podem ser encontradas no meu livro "O Conhecimento da Cabala" link á direita do blog. As 22 letras hebraicas em suas formas usadas atualmente:

   Muitos interpretam uma passagem do Evangelho em que Jesus diz que nem um "jota" será mudado das escrituras, mas na verdade ele está se referindo a letra "iod" que como o leitor pode ver na gravura acima é a menor letra desse alfabeto se parecendo com um pequeno acento flutuante e dependendo do contexto da palavra pode ser equivalente a um "jota" ou "i" das nossas letras latinas. O trecho está em Mateus cap. 5 versículo 18:

   "Pois em verdade vos digo: passará o céu e a terra, antes que desapareça um iota, um traço da lei."

   Essas letras com esse estilo são modernas, nem sempre os judeus usaram elas nas suas escritas, na verdade eles usaram os alfabetos de outros povos antes de criarem seu próprio alfabeto. A tradição costuma atribuir a invenção das letras hebraicas com essa forma usada atualmente ao escriba Esdras que teria vivido em meados de 600 a.C. e após o a libertação dos judeus do cativeiro na Babilônia pelo rei Ciro, ele ou mais provavelmente um grupo de eruditos possivelmente formularam letras com formas semelhantes a essas atuais. Mais de um alfabeto deve gratidão ao fenício, pois, além das letras gregas (que segundo o mito vieram do alfabeto fenício levado á Grécia pelo príncipe fenício Cadmo) as letras hebraicas também se basearam nelas. Veja o alfabeto fenício:

   A Fenícia se localizava no extremo Oriente do Mediterrãneo, portanto, é de se supor que tenha influenciado Abraão que habitou em Canaã próximo dali. Um midrash (interpretação da Torá de acordo com a tradição dos rabinos) diz: "as letras não foram dadas a nenhum outro senão Abraão." A variação de caracteres que se assemelha as letras fenícias e fica um pouco próxima as hebraicas modernas é chamada de "hebraico de Canaã" e foi usada pelos hebreus da região. Certas pedras com inscrições em "hebraico de Canaã" foram encontradas na América do Norte o que certamente deixou os historiadores e arqueólogos tradicionais de cabelo em pé sem saber como explicar esse fio solto da história. Hebreus teriam viajado do Velho Mundo para a América antes do "descobrimento"? Essa é uma possibilidade desconcertante para os tradicionalistas e a tradição da Igreja dos Santos dos Últimos Dias mais conhecidos como Mórmons confirma que haviam grandes grupos hebraicos na América do Norte antes da chegada dos descobridores. Fica para os pesquisadores do ramo explorar essa área.
   Devido as letras hebraicas terem cada uma um valor numérico, os cabalistas fazem várias codificações com elas. Uma palavra tem certo valor numérico e os cabalistas consideram que outra palavra com valor numérico igual tem o mesmo "peso" simbólico. Há varias outras codificações como o chamado "atbash" que extrai uma palavra de outra considerando uma sequência invertida do alfabeto hebraico, essas várias codificações são matéria para outro post.
   Como já foi dito em outros pontos, é no livro "Sêfer Ystsirá" que as letras hebraicas são mais consideradas e manipuladas para propósitos ocultos. No post anterior eu mencionei a atribuição a Abraão como suposto autor desse livro que muitos cabalistas consideram, mas, naturalmente não é exato. O Sêfer Yetsirá considera as letras hebraicas modernas e as classificações modernas dessas letras, certamente Abraão não conhecia elas dessa forma, mas, a base do conhecimento de manipulação de letras para propósitos ocultistas é muito provável que ele tivesse conhecido, talvez de iniciados da Caldéia ou de outra parte da Mesopotâmia. Dentro do contexto do Sêfer Yetsirá as 22 letras hebraicas são consideradas essências fundamentais usadas por Deus para a criação do plano material, assim, ao manipular essas letras através das técnicas desse livro o adepto está manipulando os arcanos universais da criação e a combinação delas entre si é "obra de criação" para dar forma a algo ("Sêfer Yetsirá" significa "livro da formação" ou "criação"). É matéria pra outro post aprofundar em explicações sobre esse livro, mas, basicamente existem quatro versões mais consideradas pelos cabalistas modernos e no geral todas são livros pequenos em tamanho, mas, muito "pesados" por se tratar de conhecimentos arcanos. O cabalista Abraham Abuláfia (1240-1291) diz em sua auto biografia que a iniciação ao Sêfer Yetsirá foi uma das mais marcantes de sua vida. Em suas práticas ocultas ele costumava recitar as letras e combinações delas fazendo movimentos específicos com a cabeça de acordo com os pontos vocálicos, movimentava de acordo com a direção que esses pontos eram colocados nas vogais. Suas técnicas se praticadas corretamente eram capazes de induzir a estados meditativos muito avançados, um tanto perigosos de serem tentados por amadores mas próximos ao estado "de profecia" levando a experiências místicas bastante profundas. Arieh Kaplan menciona que Abuláfia se baseava em técnicas antigas e que essa é uma vertente específica da cabala cujos livros e manuscritos são mantidos em segredo pelos seus adeptos. Assim encerro esse post tendo apresentado algumas considerações sobre as letras hebraicas.

domingo, 15 de julho de 2018

O  CONHECIMENTO  INICIÁTICO  DE  ABRAÃO

   Olá a todos! Nesse post vou falar um pouco sobre o que a tradição diz sobre os conhecimentos "ocultos" de Abraão.
   Abraão teria vivido por volta de 2600 a.C. e nascido em Ur na antiga Caudéia, sul da Mesopotâmia, depois fez uma longa migração primeiro para Harã ao norte, e depois para Canaã. Ele é o fundador do que viria a ser o judaísmo, estabeleceu a adoração a um único Deus (em um período em que era comum a adoração a múltiplas divindades) e a circuncisão do membro dos filhos no oitavo dia, além de ser o progenitor da raça judia através de Issac e da raça árabe através de Ismael. A importância dele como patriarca e fundador do monoteísmo é inquestionável, mas, sobre o conhecimento que ele tinha do oculto isso é algo mais reconhecido nos meios cabalísticos do que nas tradições religiosas.
   O pai de Abraão chamado Terah era fabricante de ídolos e ele e seu povo de Ur eram dedicados a adoração a eles, mas, desde jovem Abraão rejeitou tal costume, veja esse trecho do capítulo 19 do Alcorão versículos 41 a 43:

   "E menciona no livro Abraão. Ele era um justo e um profeta. 
   Quando disse ao pai: "Pai, porque adoras aquilo que não ouve nem vê e em nada pode beneficiar-te?
   Pai, foram-me revelados conhecimentos que não te foram revelados. Segue-me, pois: conduzir-te-ei numa senda reta."

   A resposta de seu pai está no versículo 46 desse capítulo:

   "Disse o pai: "Rejeitas meus deuses, ó Abraão? Se não te emendas, apedrejar-te-ei. Afasta-te de mim por um tempo."

   No capítulo 21 do Alcorão versículos 52 a 54 Abraão questiona seu povo:

   "Quando perguntou a seu pai e a seu povo: "Que são essas estátuas às quais estais apegados?"
   Responderam: "Nossos antepassados as adoravam."
   Replicou: "Vós e vossos antepassados tendes estado num erro evidente."

   Abraão não apenas questionou a adoração de seu povo como também reduziu a cacos as estátuas de seus ídolos como mostra os versículos 57 a 58 desse capítulo:

   "Disse Abraão: "Por Deus! Armarei um ardil contra vossos ídolos assim que tiverdes voltado as costas."
   Reduziu-os a pedaços, com efeito, menos o maior dentre eles, persuadido que voltariam a ele." 

   Madame Blavatsky em sua "Doutrina Secreta" diz que haviam métodos de se obter respostas desses ídolos e que tais ídolos chamados "terafins" ainda continuaram a serem usados pelos hebreus por um bom tempo. Mas, a Caudéia e outras regiões e civilizações próximas como a civilização babilônica e suméria também foram berço da astrologia e as bases dessa astrologia podem ser notadas na astrologia ocidental ainda existente. Aquele era um povo de contempladores de astros e Abraão teve fascinação pelos astros também quando jovem como evidencia o capítulo 6 do Alcorão versículos 76 a 78:

   "Quando a noite o envolveu, viu uma estrela e disse: "Eis meu Senhor." Depois quando a lua se pôs disse: "Se meu Senhor não me guiar, serei um dos desencaminhados."
   E quando viu o sol se levantar disse: "Eis meu Senhor! Este é maior que os dois outros." E quando o sol se pôs, disse: "Povo meu, sou inocente do que associais a Deus."

   Mesmo depois de emigrar para Canaã e aceitar o "Deus único" Abraão ainda manteve um grande conhecimento e fascínio pela astrologia como diz o Talmud: "Abraão tinha muita astrologia em seu coração, e todos os reis do leste e do oeste se apresentavam a sua porta.". Flávio Josefo do qual falei no post anterior confirma que Abraão era um dos maiores conhecedores dessa ciência de seu tempo. Os astrólogos caldeus gozaram de certa notabilidade por um tempo nas cortes dos césares romanos fazendo espantosas previsões acertadas, mas, caíram em desgraça e foram expulsos de lá depois. A primeira etapa da migração de Abraão foi até Harã, depois seguiu para Canaã veja a ilustração de sua trajetória:
    Os cabalistas creditam a Abraão a autoria do livro "Sêfer Yetsirá" o "Livro da Formação" mais antigo e um dos fundamentais livros da cabala. Comumente nas versões desse livro logo no fim se diz que foi escrito por Abraão. Uma das atribuições a quem domina completamente os mistérios desse livro é a capacidade de fabricar um "golem" um tipo de "servidor vivo" criado do barro. Falei sobre o golem e o modo como a cultura pop atual o retrata no meu livro "O Conhecimento da Cabala" disponível no site www.clubedeautores.com.br link á direita desse blog. De acordo com os cabalistas, esse conhecimento Abraão adquiriu depois de sua migração, em Harã, os cabalistas citam o capítulo 12 do Gênesis versículo 5:

   "Tomou Sarai, sua mulher, e Ló, filho de seu irmão, assim como todos os bens que possuíam e os escravos que tinham adquirido em Harã, e partiram para a terra de Canaã."

   Transcrevi esse trecho como está em uma Bíblia cristã comum, mas, os cabalistas interpretam assim: "...Abraão tomou todos os bens que possuíam e as almas que tinham fabricado em Harã e partiram para Canaã" dando a entender que Abraão fabricou "servidores escravos" ali e partiu com eles. O Sêfer Yetsirá sobre o qual também falei no meu livro inclusive fazendo comentários gerais sobre os principais trechos merece ser destrinchado com mais cuidado em um futuro post aqui no blog, mas, devo adiantar que era um recurso muito comum atribuir a autoria de um livro a um personagem famoso da antiguidade sobretudo quando apenas circulavam manuscritos não livros com o formato atual. Além disso, as várias versões do Sêfer Yetsirá foram ajustadas pelos seus copiadores para conterem elementos de judaísmo, da classificação das letras hebraicas (uma invenção posterior tanto as letras hebraicas quanto o idioma hebraico pois a língua materna de Abraão era caudéia apesar de semelhante ao hebraico moderno) e conceitos cabalísticos posteriores, são adaptações de um texto realmente antigo como as muitas referências a ele desde o séc. VI d.C confirmam. Blavatsky afirma que ele é um extrato do "Livro Caldeu dos Números" a primeira parte dele que encerra a "verdadeira" cabala ainda mantida por uma sociedade sufi do oriente e diferente da cabala conhecida e praticada pelos cabalistas ocidentais judeus e cristãos. 
   As atribuições de conhecimentos ocultos a Abraão não terminam por aí, na versão comentada do Sêfer Yetsirá de autoria de Arieh Kaplan (a que eu mais recomendo aos principiantes interessados) ele diz: "Abraão era também plenamente consciente dos usos mágicos e idólatras que podiam desenvolver-se a partir desses mistérios. O Talmud nos diz que Abraão tinha um tratado de idolatria que constava de 400 capítulos." Kaplan menciona que Abraão teria transmitido seus conhecimentos ocultos a seus filhos, assim, tal conhecimento permaneceu entre os judeus. Fabricar um golem é apenas um dos atributos do Sêfer Yetsirá, Kaplan menciona que outros adeptos usavam os conhecimentos desse livro para fabricar animais como novilhos por exemplo e os matavam na sexta e consumiam. Há evidente significado nisso já que de acordo com o Gênesis os mamíferos foram criados no sexto dia. Kaplan também diz que a fabricação de novilhos era uma das coisas "erradas" que José viu seus irmãos fazendo e contou a seu pai Jacó. Assim sendo, o reconhecimento de Abraão como um "iniciado" em mistérios ocultos é coisa bem estabelecida entre os cabalistas.
   Mas uma passagem obscura sobre um personagem misterioso que aparece na Bíblia vale ser registrada aqui e seu contato com Abraão, é o chamado "Melquisedec, rei de Salém". Josefo coloca esse personagem como rei de Jerusalém, o que não é muito correto. Essa passagem se encontra em Gênesis cap. 14 versículos 18 a 20:

   "Melquisedec, rei de Salém e sacerdote do Deus Altíssimo, mandou trazer pão e vinho, e abençoou Abraão, dizendo: "Bendito seja Abraão pelo Deus Autíssimo, que criou o céu e a terra! Bendito seja o Deus altíssimo, que entregou os teus inimigos em tuas mãos!" E Abraão deu-lhe o dízimo de tudo."

   Esse personagem aparece logo após certos reis que faziam guerra entre si sequestrarem o sobrinho de Abraão Ló, Abraão escolheu 318 homens corajosos e foi até o local a noite matando os saqueadores e recobrando os bens e libertando os prisioneiros. Uma representação dessa acolhida com pão e vinho de Melquisedec após o resgate vitorioso de Abraão:
   Melquisedek também é citado no Salmo 109 versículo 4:

   "O Senhor jurou e não se arrependerá:
   Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedec."

   Na carta de Paulo aos Hebreus esse também menciona Melquisedec. Mas quem era Melquisedec? O que ele celebrou com pão e vinho? (certos intérpretes dizem que é um prelúdio a Eucaristia de Cristo) e porque Abraão deu uma parte dos espólios a ele como dízimo? A primeira coisa a se considerar é o significado do nome desse personagem, Melquisedec é a junção de duas palavras: "malik" (significa "rei") e "tsadik" (significa "justo") portanto Melquisedec significa "rei justo". É mais lógico supor que ele não fosse exatamente um "rei" e sim um tipo de autoridade religiosa. Eu não me estenderei nas múltiplas teorias em torno desse personagem mas, citando uma delas é dito que ele representa uma organização antiquíssima cujo objetivo é manter o "status quo" a ordem vigente das coisas e que tal líder viveria em uma cidade subterrânea na Ásia Central chamada Shambala. Fica em aberto aos interessados em pesquisar. Assim encerro esse post sobre os conhecimentos ocultos de Abraão.
                          

quarta-feira, 11 de julho de 2018

FLÁVIO  JOSEFO

   Olá a todos! Nessa postagem vou falar um pouco sobre o historiador judeu Fávio Josefo que registrou muito das tradições judaicas na antiguidade e também falarei sobre a relação Jerusalém/Roma muito obscura em alguns aspectos.
   Flávio Josefo na verdade se chamava Josef Ben Mattityahu nascido em meados de 37 d.C e falecido em 100 d.C. Era filho do sacerdote Matias e por parte de mãe da família dos Hasmoneus que governou Jerusalém de 164 a.C a 37 a.C, dinastia iniciada pelos Macabeus célebres por terem iniciado uma revolta judaica contra Antíoco IV Epífanes que decretou a proibição da religião judaica e queria impor o helenismo á força aos povos da região que governava Síria e Judéia. Aos dezenove anos aderiu a seita dos fariseus. Durante a campanha militar de Vespasiano na Judéia resistiu com outros soldados na defesa de Jerusalém, mas, acabou por se render e foi bem acolhido por este recebendo cidadania romana e uma pensão, assim, ele adotou o nome de Flávio Josefo em homenagem a patronagem romana. Foi para Roma onde escreveu as obras "Guerra dos Judeus Contra os Romanos", "Antiguidades dos Judeus" (também chamada em outras versões de "História dos Hebreus" são vários volumes que abrangem acontecimentos desde os narrados no Gênesis até o momento em que vivia) e sua auto biografia "Vida de Flavio Josefo". Muitos críticos o acusam de ter traído sua origem judaica e ter se "vendido" aos romanos. Também criticam seus escritos como sendo demasiadamente favoráveis aos romanos. Ilustração fantasiosa representando Flávio Josefo:
   Embora "oficialmente" a Judéia e os costumes judeus em geral tenham sido expostos a população romana através da campanha do general Cneu Pompeu Magno em meados de 60 a.C (Pompeu foi retratado como respeitador dos objetos do Templo por Josefo embora a maioria dos judeus na época visse Pompeu como um saqueador de Jerusalém) existem relatos anteriores que sugerem uma ligação mais antiga entre Roma/Jerusalém.
   No livro "Kebra Nagast" (significa "Glória dos Reis" é um livro considerado sagrado na Etiópia) há um relato que diz que a região de Roma estava sob o domínio de Jafet filho de Noé após a divisão da terra que os filhos de Noé fizeram após o dilúvio. Então, um tal Darius estabeleceu as nações de Tyro, Antióquia, Parta e Roma. Dezoito gerações depois de Darius houve um descendente dele chamado Zambares que teria inventado o astrolábio um instrumento de observação da posição dos astros, e que esse Zambares teve uma visão em que Roma não permaneceria sob o domínio de um descendente de Jafet e sim de um descendente de Sem, por isso ele enviou emissários a Davi pedindo que Davi casasse um filho dele com sua filha, assim dessa união a filha de Zambares gerou um filho chamado Adramis. Após a morte de Zambares, seu parente Baltazor se tornou rei de Roma. Esse Baltazor também não teve filhos e sim filhas, por isso pediu a Salomão que fizesse seu filho se casar com a filha dele para se tornar rei de Roma em seu lugar. Salomão enviou Adramis para Roma junto com vários nobres judeus e Adramis foi um bom rei em Roma. Deve-se considerar que nessa época meados de 1000 a.C Roma ainda não era um grande império e se tal união realmente ocorreu, os laços entre Roma e Jerusalém foram esquecidos nas gerações que se sucederam tanto que os romanos tiveram que "redescobrir" Jerusalém anos após. 
   Com a revolta dos Macabeus em meados de 160 a.C contra o helenismo forçado de Antioco IV, Judas Macabeu desejou fazer aliança com os romanos conforme é relatado em I Macabeus cap. 8 versículos 17 a 22 veja:

   "Escolheu Judas a Eupólemo, filho de João, filho de Acos, e Jasão, filho de Eleazar, e enviou-o a Roma para estabelecer amizade e aliança com eles, pedindo-lhes que os libertasse do jugo que os gregos, como estavam vendo, faziam pesar sobre Israel, reduzindo-o à escravidão.
   Dirigiram-se eles a Roma, apesar da duração da viagem, e entraram no Senado, onde disseram: "Judas, também chamado Macabeu, seus irmãos e todo o povo de Israel nos enviaram até vós, para firmar aliança e paz e para que nos conteis entre vossos amigos e aliados."
   Essa linguagem agradou aos romanos. Eis a cópia da carta que os romanos mandaram gravar sobre tabuletas de bronze e enviaram a Jerusalém, para ali ficar como memorial de paz e de amizade de sua parte: (...)"  

   A aliança se estendeu a Esparta, e, após a morte de Jônatas Macabeu seus aliados romanos e espartanos lamentaram isso e se alegraram de saber que outro da família dos Macabeus assumiu a liderança em seu lugar como é narrado em I Macabeus cap. 14 versículos 16 a 18 e também o versículo 24:

   "A notícia da morte de Jônatas chegou a Roma e também a Esparta, provocando grandes pesares. Mas, logo que os romanos souberam que seu irmão Simão se tinha tornado sumo sacerdote em seu lugar e governava o país com as cidades que ali se achavam, escreveram-lhe placas de bronze, para renovar a amizade e a aliança , outrora concluída com seus irmãos Judas e Jônatas. Essa mensagens foram lidas diante da assembléia em Jerusalém. Eis a cópia daquela que enviaram aos espartanos:(...)"

   "Em seguida, Simão enviou Numênio a Roma com um grande escudo de ouro, que pesava mil minas, para firmar aliança com os romanos."

   Essas alianças antigas foram esquecidas pelos romanos. Quanto a Pompeu, foi visto como um saqueador do Templo de Jerusalém e como Júlio César o venceu foi bem visto pelos judeus. Prova disso se encontra no livro "A Vida dos Doze Césares" do historiador romano Seutônio que viveu entre 69 d.C a 141 d.C. Ele registra que os judeus residentes em Roma lamentaram muito o assassinato de Júlio César veja o trecho:

   "(...) Em meio a este grande luto público, uma multidão de delegações estrangeiras veio evidenciar seu pesar, cada uma por sua vez e á sua maneira. Principalmente os judeus, que velaram a pira durante várias noites incessantemente."

   O domínio de Vespasiano sobre Jerusalém foi sua vitória mais celebrada. Seu filho Tito celebrou tal conquista registrando-a em um "arco do triunfo" no qual figura os romanos levando uma "menorá" o castiçal de sete braços furtado do Templo de Jerusalém, veja:
   Voltando a Josefo, é possível encontrar muitas curiosidades em seus livros. Em seu "História dos Hebreus" ele justifica o motivo de escrevê-lo devido a ter visto versões gregas de escritos judaicos e assim resolve fazê-lo também em grego que era a "língua culta" da época. É narrado desde o livro de Gênesis por isso não difere muito da Bíblia mas com uma interpretação própria dele. Em relação a longevidade das primeiras gerações após Adão que viviam segundo a Bíblia até mil anos, Josefo afirma que isso era devido a alimentação da época e que outro motivo dessa longevidade era para eles poderem calcular um ciclo astrológico de 600 anos. No episódio da arca de Noé, ele afirma que após o dilúvio a arca estacou em uma montanha da região da Armênia e que ainda na época em que escrevia os habitantes da Armênia tinham acesso a pedaços da arca cobertos com betume, o hipermeabilizante com a qual ela foi recoberta. Ele narra sobre a partilha do terra pelos filhos de Noé (essa partilha era do conhecimento de Salomão. No "Kebra Nagast" Salomão se refere as regiões governadas pelos filhos de Noé e as nações que herdaram tais regiões). Josefo registra que Abraão saiu da Caudéia e que tinha grande conhecimento astronômico que ele mesmo propagou no Egito pois os egípcios tinham esquecido (o conhecimento iniciático de Abraão merece ser abordado melhor em outra postagem). Josefo fala sobre o poder de Salomão sobre os demônios o que evidência que os judeus estavam cientes dessa tradição, embora a Bíblia cristã nada diga a respeito, veja o trecho de Josefo sobre Salomão:

   "Esse grande soberano compôs cinco mil livros de cânticos e de versos, três mil livros de parábolas, (...) Deus lhe concedeu perfeito conhecimento da natureza e de suas propriedades e ele escreveu um livro no qual empregou esse conhecimento em compor, para utilidade dos homens, diversos remédios. Alguns deles tinham até mesmo força para expulsar demônios, que não se atreviam a voltar. 
   Essa prática está ainda em uso entre os de nossa nação. Vi um judeu chamado Eleazar, livrar diversos possessos, na presença do imperador Vespasiano, de seus filhos e de vários oficiais e soldados. Ele prendia ao nariz do possesso um anel no qual estava fincado uma raiz, a mesma que Salomão se servia para aquele fim. Logo que o demônio a cheirava, arremessava o doente por terra e o abandonava. Ele dizia então as mesmas palavras que Salomão havia deixado por escrito e, fazendo menção desse príncipe, proibia ao demônio voltar. Para fazer ver ainda melhor o efeito das conjurações, enchia uma vasilha de água e ordenava o demônio que a lançasse por terra, como sinal de que havia abandonado o possesso, e o demônio obedecia. Julguei bem relatar essa história a fim de que ninguém possa duvidar da ciência assaz extraordinária, que Deus concedeu a Salomão como graça particular."

   Esse aspecto oculto de Salomão visto do ponto de vista judaico merece ser tratado em outra postagem futura. Também em relação a Jesus, Josefo deixou registro veja:

   "Sobre este tempo viveu Jesus, um homem sábio, se é que podemos chamá-lo de um homem. Pois ele foi o realizador de feitos extraordinários e era um professor daqueles que aceitam a verdade com prazer. Ele conquistou muitos dos judeus e muitos dos gregos. Ele era o Messias. Quando ele foi indicado pelos principais homens entre nós e Pilatos condenou-o para ser crucificado, aqueles que tinham vindo a amá-lo originalmente não deixaram de fazê-lo, pois ele lhes apareceu no terceiro dia, ressuscitou, como os profetas de antigamente haviam predito essas e muitas outras coisas maravilhosas a respeito dele, e a tribo dos cristãos assim nomeados após ele não desapareceram até hoje."

   Assim sendo, foi de Josefo que veio uma das mais antigas citações a Jesus de origem judaica. Todos os trabalhos de Josefo merecem serem estudados e são uma grande fonte de informação sobre tradições antigas dos judeus, embora seus críticos afirmem que não são totalmente confiáveis. 

domingo, 8 de julho de 2018

URIM, TUMIM E O PEITORAL DO SACERDOTE

   Olá pessoal! Nesse post vou falar sobre os acessórios conhecidos como "urim e tumim" e o peitoral do sacerdote de acordo como foi orientado por Deus a serem feitos pelos israelitas após a saída do Egito.
   É muito significativo que após os israelitas deixarem o Egito guiados por Moisés, esse recebeu de Deus instruções relativas aos ritos que deveriam ser obedecidos desde então pelos israelitas, o que deveria ser considerado permitido e proibido e instruções para a manufatura de uma série de artefatos, alguns desses ritos ainda são observados pelos judeus na atualidade, mas, quanto a muitos desses insólitos artefatos não se sabe se foram de alguma forma conservados ou não e por isso são motivos de muitas especulações da parte dos pesquisadores. 
   As instruções relativas a como deveria ser o manto do sacerdote e inclusive o peitoral com doze pedras preciosas representando as doze tribos de Israel e o "urim e tumim" encontram-se em Êxodo cap. 28 versículos 1 a 5 veja:

   "Faze vir junto de ti, do meio dos israelitas, teu irmão Aarão com seus filhos para me servirem no ofício sacerdotal: Aarão, Nadab, Abiú, Eleazar e Itamar, filhos de Aarão.
   Farás para teu irmão Aarão vestes sagradas em sinal de dignidade e de distinção. Fala aos homens inteligentes a quem enchi o espírito de sabedoria, para que confeccionem as vestes de Aarão, de sorte que ele seja consagrado ao meu sacerdócio. Eis as vestes que deverão fazer: um peitoral, um efod, um manto, uma túnica bordada, um turbante e um cinto. Tais são as vestes que farão para teu irmão Aarão e para os seus filhos, a fim de que sejam sacerdotes a meu serviço; empregarão ouro, púrpura violeta e escarlate, carmesim e linho fino."

   Nesse trecho vemos a orientação para a manufatura de uma vestimenta completa de uso do sacerdote. O manto básico é chamado de "efod" e também "éfode" em outras versões. Quanto ao peitoral com as doze pedras engastadas a descrição se encontra em Êxodo cap. 28 versículos 15 a 22 veja o trecho:

   "Farás um peitoral de julgamento artisticamente trabalhado, do mesmo tecido que o efod: ouro, púrpura violeta e escarlate, carmesim e linho fino retorcido. Será quadrado, dobrado em dois, do comprimento de um palmo e de largura de um palmo. Tu o guarnecerás com quatro fileiras de pedrarias. Primeira fileira: um sárdio, um topázio e uma esmeralda; segunda fileira: um rubi, uma safira, um diamante; terceira fileira: uma opala, uma ágata e uma ametista; quarta fileira: um crisólito, um ônix e um jaspe. Serão engastadas em uma filigrana de ouro. E, correspondendo aos nomes dos filhos de Israel, serão em número de doze, e em cada uma será gravado o nome de uma das doze tribos, à maneira de um sinete."

   Em complemento, também há instruções sobre o "urim e tumim" a serem colocado nesse peitoral, está em Êxodo cap. 28 versículo 30, veja:

   "No peitoral de julgamento porás o urim e o tumim, para que estejam sobre o peito de Aarão quando ele se apresentar diante do Senhor. Assim Aarão levará constantemente sobre o seu coração, diante do Senhor, o julgamento dos israelitas."

   Há muitas ilustrações de artistas que tentaram ilustrar como deveria ser essa vestimenta. Essa é uma delas:

   Madame Blavatsky no volume V de sua "Doutrina Secreta" seção 26 "Os ídolos e os Terafins" menciona o seguinte em relação a esse assunto:

   "(...)e se o Gênesis nos conta que Rebeca 'foi interrogar o Senhor', e o Senhor lhe respondeu (certamente por intermédio do terafim) com várias profecias? E se isso não é suficiente, veja-se como Saul deplora o silêncio do éfode, e como Davi consulta o tumim e recebe do Senhor conselhos orais quanto à melhor maneira de aniquilar os inimigos.
   No entanto, o tumim e o urim, que em nossos dias são objeto de tantas conjeturas e especulações, não foram inventados pelos judeus, nem seu uso principiou com eles, não obstante as minuciosas instruções que Jehovah deu a Moisés sobre esse assunto: o hierofante dos templos egípcios já usava um peitoral de pedras preciosas em tudo semelhante ao do sumo sacerdote israelita."

   Blavatsky nessa seção fala sobre o uso dos chamados "terafins" ídolos que foram usados por muito tempo ainda pelos judeus, costume trazido da Caldéia. O próprio pai de Abraão fabricava tais ídolos, seu nome era Terah que significa "fabricante de imagens". E também diz ela que a vestimenta do sacerdote israelita foi baseada na vestimenta dos sacerdotes egípcios e que no tempo de Saul e Davi os urim e tumim ainda eram consultados para tomar decisões. "urim e tumim" significa "luzes e perfeições" e como já foi dito, eram atados ao peitoral do sacerdote. Veja o trecho em que Saul consulta o urim para saber a melhor decisão a tomar relativo a batalha contra os filisteus, está em I Samuel cap. 27 versículos 5 a 6:

   "Ao ver o acampamento dos filisteus, Saul inquietou-se e teve grande medo. E consultou o Senhor, o qual não lhe respondeu nem por sonhos, nem pelo urim, nem pelos profetas."

  Quanto a consulta de Davi a esse artefatos, a narrativa se encontra em I Samuel cap. 30 versículos 6 a 8 veja:

   "Davi afligiu-se em extremo, porque os seus queriam apedrejá-lo, estando todos amargurados por causa da perda de seus filhos e filhas. Mas Davi se reconfortou no Senhor, seu Deus. E disse ao sacerdote Abiatar, filho de Abimelec: 'Traze-me o efod'. Abiatar trouxe-lhe o efod. Davi consultou o Senhor: 'Devo perseguir essa gente? Vou alcançá-la?'. 'Persegue-os' -respondeu o Senhor;- 'tu os alcançarás certamente e os vencerás.'"

   Tempos após, não se encontram mais menções nem ao peitoral com doze pedras do sacerdote, nem aos urim e tumim. Há certas referências que ainda dizem que para o corte das pedras do peitoral do sacerdote Moisés recorreu ao "shamir" um tipo de verme capaz de cortar pedras com precisão e silêncio, o mesmo ao qual recorreria Salomão para o corte das pedras para a construção do Templo de Jerusalém. Mas, quanto ao urim e tumim fica em aberto se esse artefato acoplado ao peitoral do sacerdote dava respostas complexas, ou simples como "sim e não" e se tais respostas eram realmente a manifestação da vontade de Deus ou apenas leitura de sorte. Ao longo de toda Bíblia em muitos pontos se narra sobre indivíduos que tomam decisões baseados aparentemente em uma jogada de sorte. Seja como for, desses e de outros artefatos nada se sabe, desapareceram da história.



   

sexta-feira, 6 de julho de 2018

A  MEZUZAH

   Olá a todos! Nesse post vou falar sobre um objeto típico da tradição judaica, a chamada "mezuzah".
   Mezuzah significa "umbral" trata-se de um objeto contendo um rolo de pergaminho com trechos da Torá que os judeus costumam fixar no batente das portas, no lado direito e geralmente com uma leve inclinação para dentro. Existem certos padrões a serem obedecidos para a correta colocação da mezuzah. Ela deve ser afixada de modo permanente, por um judeu mais experiente e que já cumpriu o "bar mitsva" (formação religiosa que os meninos geralmente alcançam por volta dos 13 anos) e é recitada uma benção antes de fixá-la. Algumas fotos de mezuzah:

   Os judeus geralmente beijam as mãos e tocam a mezuzah quando entram em casa. É muito comum que algumas tenham a letra hebraica "shim" por fora pelo mesmo motivo que algumas caixas de tefilin (conferir post desse mesmo blog de título "O TEFILIN) pois eles geralmente tem um pedaço de pergaminho com a oração chamada "shemá" Deutoronômio cap. 6 versículos 4 a 9 que conclama a unicidade de Deus e começa com a letra hebraica "shim". Há uma grande variedade de formas de mezuzah, geralmente são adornadas com imagens que remetem a tradição judaica como imagens de templos, a estrela de Davi (hexagrama) e a forma da pedra dos dez mandamentos. Veja a cena do filme "Ben Hur" em que o herói do filme que é judeu beija uma mezuzah antes de entrar na casa:
   Além de seu simbolismo religioso, há por trás do uso da mezuzah um simbolismo ocultista também. Faz lembrar o episódio bíblico em que antes de desencadear a décima praga do Egito, Deus ordena a Moisés que pinte a porta das casas dos israelitas com sangue de cordeiro para evitarem terem seus filhos primogênitos mortos. Na tradição de muitas regiões da Mesopotâmia entre os rios Tigre e Eufrates, onde floreceu a cultura babilônica havia a tradição das "bacias de encantamento" que costumavam serem enterradas na soleira das portas para "prender demônios". A demonologia assíria e babilônica era muito elaborada e tal tradição continuou e até incorporou elementos do judaísmo, algumas dessas bacias descobertas continham encantamentos pedindo proteção de anjos conhecidos pelo nome da tradição judaica e de Salomão famoso na tradição por ter comandado demônios. Na tradição oculta se considera que além das pessoas, demônios também entram pela porta, fiz menção a isso na resenha sobre o filme "Constantine" no meu outro blog ricardodias7.blogspot.com.br veja imagem da cena do filme em que a personagem Angela entra no apartamento do Constantine e nota as inscrições no batente de sua porta:

quarta-feira, 4 de julho de 2018

O TEFILIN

   Olá pessoal! Nesse post vou falar um pouco sobre os aspectos simbólicos do "tefilin" mais um acessório típico da tradição judaica.
   A palavra "tefilin" vem da mesma raiz hebraica da palavra "prece", é basicamente um tipo de amuleto de proteção usado com o propósito de se recordar de Deus. Consiste em duas caixinhas contendo fragmentos escritos da Torá e unidas por uma tira de couro que deve ser feita de um animal "puro" de acordo com os que são considerados "puros" na Torá. O costume judeu é que a pessoa pode usar o tefilin apenas após o "Bar Mitsvá" (significa "filho do mandamento" é a formação religiosa tradicional pela qual deve passar todos judeus, fazendo um paralelo seria o equivalente a "primeira comunhão" dos católicos) e apenas no shabbat, o sábado é que não se deve usá-lo. Imagem de um tefilin:
   Aqui foto de soldados israelenses usando tefilins e inclusive o talit, o manto de orações sobre o qual já falei em um post desse mesmo blog:
   A maneira tradicional de se usar o tefilin é enrolar uma parte com uma caixinha no braço esquerdo pois fica próximo do coração, e a outra caixinha fica na testa. Os quatro versículos da Torá que conclamam os israelitas a se recordarem de Deus são: Êxodo cap. 13 versículos 1 a 10, Êxodo cap. 13 versículos 11 a 16, Deuteronômio cap. 6 versículos 4 a 9 e Deuteronômio cap. 11 versículos 13 a 21. Esses trechos são a "Shemá" a profissão de fé judaica. A mais lembrada é o trecho de Deuteronômio cap. 6 versículos 4 a 9 e esse trecho começa com: "Ouve Israel, o Senhor nosso Deus é um Deus único." e "Ouve" em hebraico é "Shemá" por isso a letra "shim" aparece naquela primeira imagem do tefilin. O tefilin é fabricado sob determinados padrões e obedecendo certos ritos. Detalhes mais significativos sobre os significados esotéricos do tefilin podem ser encontrados no livro "Tefilin: A Conexão Com o Infinito" de autoria do cabalista Aryeh Kaplan:

  Também um desses trechos costuma ser colocado na chamada "mezuzá" assessório da tradição judaica colocado no batente das portas por isso a letra hebraica "shim" costuma aparecer em uma mezuzá, mas, falarei sobre a mezuzá em outro post. Até a próxima! 

segunda-feira, 2 de julho de 2018

O  TALIT

   Olá a todos! Nesse post vou falar sobre algumas conotações e significados esotéricos atribuídos ao chamado "talit" que é o manto de orações da tradição judaica.
   Esse manto geralmente é feito de seda, lã ou linho e costuma ter franjas nas laterais e linhas coloridas de azul. Essa coloração azul era tirada antigamente de um molusco chamado chilazon. Um homem usando um talit:
   O significado básico do uso do talit é isolar a pessoa do mundo vulgar para entrar em um ambiente de oração, ajuda a se concentrar. Objetos e acessórios externos que ajudam a se lembrar de Deus são muito importantes, pois, no corre-corre do dia a dia as pessoas do mundo moderno acabam ficando muito materialistas. Uma curiosidade é que a bandeira de Israel foi baseada em um talit por isso ela é branca com essas duas faixas azuis, assim como um talit tradicional veja:

   Outro acessório da tradição judaica que tem uma conotação semelhante é o chamado "quipá" ou "kipá", esse é usado na cabeça. Pessoas usando o kipá:
   O quipá simbolicamente ajuda a lembrar que Deus está acima de todos nós. Os bispos do catolicismo ás vezes usam um acessório semelhante ao kipá, como o cristianismo veio do judaísmo é natural que eles tenham adaptado esse acessório. Os bispos católicos com acessório na cabeça semelhante ao kipá judeu:
   O grande cabalista Abraham Abuláfia (nascido em 1240 e falecido em 1291, fiz uma menção biográfica dele no meu livro "O Conhecimento da Cabala" disponível em versão e-book no site clubedeautores.com.br) dava grande importância ao uso do talit durante a prática de técnicas meditativas. Pessoalmente considero Abuláfia um cabalista superior ao Issac Luria considerado pela maioria dos cabalistas como o maior cabalista de todos os tempos. Abuláfia dava grande importância a técnicas meditativas e o sistema dele envolvia movimentos específicos com a cabeça de acordo com as letras hebraicas recitadas. Ele realmente atingia estados meditativos muito elevados próximos do estado considerado "de profecia" o estado mental atingido pelos profetas de antigamente através do qual eram capazes de realizar os tão famosos "milagres" da antiguidade relatados na Bíblia. Em certo ponto de seus livros Abuláfia menciona a contemplação da linha azul do talit e que essa contemplação facilita a indução a esses estados elevados.Técnicas específicas de meditação também fazem parte da cabala embora a maioria das pessoas do mundo ocidental costume associar a meditação a tradições orientais como budismo ou hinduísmo, mas, esse tema deixarei para abordar em outro post futuro.

domingo, 1 de julho de 2018

O  SHOFAR

   Olá pessoal! Nesse post vou falar sobre os significados esotéricos atribuídos ao "shofar".
   O shofar é o "chifre cerimonial" da tradição judaica, ele é perfurado para ser usado como instrumento de sopro e soprado em certas ocasiões especiais dentro e fora da celebração religiosa judaica. Para a fabricação do shofar a tradição manda que seja usado o chifre de um animal "puro" (a Bíblia apresenta em várias partes uma lista de animais considerados "puros" ou "impuros" de acordo com a tradição judaica) mas comumente se usa um chifre de carneiro lembrando o sacrifício de um carneiro que o patriarca Abraão fez no lugar de seu filho Isaac. Existem diversas maneiras dele ser tocado e com diversos significados.
   O simbolismo do toque do shofar é muito rico. O próprio soar do som é um estímulo para se entrar em outro estado mental, mais espiritualizado. Na celebração judaica tradicional geralmente é tocado após a leitura da Torá. Seu toque conclama os ouvintes da cerimônia a pensarem em seus próprios atos, se arrependerem de seus pecados, buscarem misericórdia e recordarem-se de Deus. Uma foto de um adepto judeu tocando o shofar, inclusive usando uma tira de couro enrolada no braço, o "talit"(manto de oração) e o "tefilin" na cabeça (caixinhas com um pergaminho escrito com uma parte da torá) todos esses elementos são altamente significativos e em outra postagem falarei deles:
   Elementos externos usados com o propósito de induzir a um outro estado mental estimulando os sentidos são muito comuns no ocultismo em geral. O incenso é usado para diversos propósitos, dentro de cultos religiosos a intenção é fazer uma oferta de um produto de aroma agradável para "honrar" a divindade, mas, nas tradições dos oráculos da antiguidade a pessoa que era o oráculo normalmente inspirava certos incensos para entrar no estado mental alterado. A música também era usada como um indutor de estados mentais alterados, certos profetas recorriam a música para atingirem esses estados. Na magia cerimonial é comum achar referência a uma corneta ou sino para serem tocados no ritual, o propósito é esse. Já vi referências a um gongo também dentro da magia cerimonial. No exorcismo judaico (muitas tradições religiosas fora do catolicismo tem técnicas específicas de exorcismo) ao invés de um só exorcista é reunido um "minian" (também chamado de "minyan" é um grupo de dez homens adultos reunidos para certas obrigações religiosas) liderado por um rabino mais experiente e é soprado o shofar no ritual exorcístico. Com isso creio ter explicado alguns significados e usos do shofar, até a próxima!