quinta-feira, 19 de julho de 2018

A  LÍNGUA  HEBRAICA

   Olá pessoal! No post anterior eu falei sobre as letras hebraicas, então, nada mais justo do que falar agora sobre o idioma hebraico e principalmente desmitificar alguns conceitos que costumam ser atribuídos a essa língua.
   Da mesma forma que o alfabeto hebraico é considerado pelos adeptos como um alfabeto "sagrado" ou muito propício ás práticas ocultas, também a língua hebraica é considerada uma língua "sagrada" e usada para propósitos ocultistas. É a língua própria dos judeus e com a qual foi escrita a Torá. Porém, da mesma forma que os hebreus tiveram que se mudar para várias nações através dos milhares de anos de sua existência, também houve uma evolução no idioma hebreu, basicamente os ditos "hebreus" falavam as línguas dos povos com os quais conviveram e a língua hebraica tal qual é conhecida hoje em dia é uma adaptação moderna. É uma língua de raiz semítica (palavra que remete a "Sem" um dos três filhos de Noé) portanto outras línguas da mesma raiz se assemelham a ela como o árabe e o siríaco. 
   Considerando-se que a "nação" judaica começou com Abraão, então realmente não é correto supor que o hebraico seja a língua materna dos judeus, pois, Abraão nasceu na Caudéia sul da Mesopotâmia e sua língua materna era o caldeu, embora seja provável que o caldeu tenha algumas semelhanças com o hebraico moderno. Nos tempos em que os hebreus viveram no Egito, eles falavam o idioma egípcio e possivelmente preservaram um dialeto próprio que só usassem em casa com seus parentes. Com a dispersão dos judeus pelo mundo, eles adotaram as línguas dos outros povos e pode-se dizer que o hebraico era usado apenas como língua "litúrgica" nos cultos religiosos.
   Muitos afirmam, o que dá grande orgulho aos judeus, que o hebraico ou um idioma semelhante ao hebraico foi a língua "original" da raça humana que Adão falava e com a qual deu nome aos animais e as plantas. Mas como já disse, o hebraico é uma adaptação moderna. Madame Blavatsky menciona muitas vezes um suposto idioma universal conhecido pelos grandes iniciados e o próprio coronel Olcott a ouviu algumas vezes se comunicar nessa língua desconhecida com certos adeptos. Em relação ao hebraico, essas são as ressalvas que ela faz em seu livro "A Doutrina Secreta" volume V:

   "Mas os cinco livros hoje conhecidos com o nome de Pentateuco não são os anais mosaicos originais. Nem foram escritos nos antigos caracteres hebreus quadrados, nem tampouco nos caracteres samaritanos, pois ambos os alfabetos datam de época posterior á Moisés, e o hebraico -como hoje se sabe- não existia no tempo do grande legislador, nem como idioma nem como alfabeto."

   Outra citação da mesma obra:

   "O verdadeiro idioma dos hebreus no tempo de Moisés perdeu-se durante o cativeiro, quando os israelitas permaneceram entre os caldeus, e a língua destes foi então enxertada no hebraico, resultando dessa fusão uma variedade dialética do caldeu, com um ligeiro colorido do idioma hebreu, que daí em diante deixou de ser falado."

   Mais uma citação:

   "Diz-se que o hebraico é um idioma antiquíssimo, mas dele não há sinal algum nos velhos monumentos, nem sequer na Caldéia. Entre as numerosas inscrições, de várias espécies, encontradas nas ruínas desse país, 'nunca se descobriu uma só que fosse em língua e caracteres caldeu-hebraicos, nem medalha ou jóia autêntica que contivesse esse caracteres de nova invenção, e se pudesse atribuir pelo menos à época de Jesus'". 

   Embora diluído e misturado com outros dialetos, a língua dos antigos hebreus pode ser encontrada no chamado aramaico. A língua materna de Jesus e com a qual ele se dirigia ao povo e seus seguidores era um aramaico antigo, mas, semelhante ao aramaico ainda preservado hoje em dia. Os judeus que viveram na Península Ibérica (Portugal e Espanha) denominados judeus sefarditas desenvolveram um dialeto próprio chamado "ladino" que é como uma mistura do espanhol com hebraico. Já os judeus da região da Alemanha e países da Europa Oriental desenvolveram o dialeto chamado "yidish" que mistura o idioma alemão com hebraico. O hebraico tal qual é conhecido nos dias de hoje é resultado do esforço de reconstrução do linguista  Eliezer ben Yehuda (1858-1922) nascido na região da Bielorrússia. Yehuda notou as revoluções de sua época e decidiu que o povo hebreu deveria se fortalecer reconstruído sua língua original e usando-a durante os afazeres do dia-a-dia não apenas nos ritos religiosos. Foto de Eliezer ben Yehuda:
   Certamente não deve ter sido uma tarefa fácil pois o hebraico estava "diluído" e misturado com outros dialetos, por isso ele teve que recorrer a livros antigos. Uma das suas grandes contribuições foi a publicação de um dicionário de hebraico "Dicionário Completo do Hebraico Antigo e Moderno" e a publicação de um jornal completamente em hebraico. Ele era rigoroso com o ensino do hebraico ao seu filho e só admitia que ele ouvisse conversação em hebraico para que tivesse-a como língua materna. Faleceu de tuberculose em Israel.
   Assim, concluímos essa dissertação sobre a língua hebraica, que, como o leitor pode ver, é uma reconstrução moderna de um dialeto antigo e não exatamente a língua original dos judeus falada pelos patriarcas Abraão, Moisés ou Jesus, mas algo semelhante a ela.  

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