quarta-feira, 11 de julho de 2018

FLÁVIO  JOSEFO

   Olá a todos! Nessa postagem vou falar um pouco sobre o historiador judeu Fávio Josefo que registrou muito das tradições judaicas na antiguidade e também falarei sobre a relação Jerusalém/Roma muito obscura em alguns aspectos.
   Flávio Josefo na verdade se chamava Josef Ben Mattityahu nascido em meados de 37 d.C e falecido em 100 d.C. Era filho do sacerdote Matias e por parte de mãe da família dos Hasmoneus que governou Jerusalém de 164 a.C a 37 a.C, dinastia iniciada pelos Macabeus célebres por terem iniciado uma revolta judaica contra Antíoco IV Epífanes que decretou a proibição da religião judaica e queria impor o helenismo á força aos povos da região que governava Síria e Judéia. Aos dezenove anos aderiu a seita dos fariseus. Durante a campanha militar de Vespasiano na Judéia resistiu com outros soldados na defesa de Jerusalém, mas, acabou por se render e foi bem acolhido por este recebendo cidadania romana e uma pensão, assim, ele adotou o nome de Flávio Josefo em homenagem a patronagem romana. Foi para Roma onde escreveu as obras "Guerra dos Judeus Contra os Romanos", "Antiguidades dos Judeus" (também chamada em outras versões de "História dos Hebreus" são vários volumes que abrangem acontecimentos desde os narrados no Gênesis até o momento em que vivia) e sua auto biografia "Vida de Flavio Josefo". Muitos críticos o acusam de ter traído sua origem judaica e ter se "vendido" aos romanos. Também criticam seus escritos como sendo demasiadamente favoráveis aos romanos. Ilustração fantasiosa representando Flávio Josefo:
   Embora "oficialmente" a Judéia e os costumes judeus em geral tenham sido expostos a população romana através da campanha do general Cneu Pompeu Magno em meados de 60 a.C (Pompeu foi retratado como respeitador dos objetos do Templo por Josefo embora a maioria dos judeus na época visse Pompeu como um saqueador de Jerusalém) existem relatos anteriores que sugerem uma ligação mais antiga entre Roma/Jerusalém.
   No livro "Kebra Nagast" (significa "Glória dos Reis" é um livro considerado sagrado na Etiópia) há um relato que diz que a região de Roma estava sob o domínio de Jafet filho de Noé após a divisão da terra que os filhos de Noé fizeram após o dilúvio. Então, um tal Darius estabeleceu as nações de Tyro, Antióquia, Parta e Roma. Dezoito gerações depois de Darius houve um descendente dele chamado Zambares que teria inventado o astrolábio um instrumento de observação da posição dos astros, e que esse Zambares teve uma visão em que Roma não permaneceria sob o domínio de um descendente de Jafet e sim de um descendente de Sem, por isso ele enviou emissários a Davi pedindo que Davi casasse um filho dele com sua filha, assim dessa união a filha de Zambares gerou um filho chamado Adramis. Após a morte de Zambares, seu parente Baltazor se tornou rei de Roma. Esse Baltazor também não teve filhos e sim filhas, por isso pediu a Salomão que fizesse seu filho se casar com a filha dele para se tornar rei de Roma em seu lugar. Salomão enviou Adramis para Roma junto com vários nobres judeus e Adramis foi um bom rei em Roma. Deve-se considerar que nessa época meados de 1000 a.C Roma ainda não era um grande império e se tal união realmente ocorreu, os laços entre Roma e Jerusalém foram esquecidos nas gerações que se sucederam tanto que os romanos tiveram que "redescobrir" Jerusalém anos após. 
   Com a revolta dos Macabeus em meados de 160 a.C contra o helenismo forçado de Antioco IV, Judas Macabeu desejou fazer aliança com os romanos conforme é relatado em I Macabeus cap. 8 versículos 17 a 22 veja:

   "Escolheu Judas a Eupólemo, filho de João, filho de Acos, e Jasão, filho de Eleazar, e enviou-o a Roma para estabelecer amizade e aliança com eles, pedindo-lhes que os libertasse do jugo que os gregos, como estavam vendo, faziam pesar sobre Israel, reduzindo-o à escravidão.
   Dirigiram-se eles a Roma, apesar da duração da viagem, e entraram no Senado, onde disseram: "Judas, também chamado Macabeu, seus irmãos e todo o povo de Israel nos enviaram até vós, para firmar aliança e paz e para que nos conteis entre vossos amigos e aliados."
   Essa linguagem agradou aos romanos. Eis a cópia da carta que os romanos mandaram gravar sobre tabuletas de bronze e enviaram a Jerusalém, para ali ficar como memorial de paz e de amizade de sua parte: (...)"  

   A aliança se estendeu a Esparta, e, após a morte de Jônatas Macabeu seus aliados romanos e espartanos lamentaram isso e se alegraram de saber que outro da família dos Macabeus assumiu a liderança em seu lugar como é narrado em I Macabeus cap. 14 versículos 16 a 18 e também o versículo 24:

   "A notícia da morte de Jônatas chegou a Roma e também a Esparta, provocando grandes pesares. Mas, logo que os romanos souberam que seu irmão Simão se tinha tornado sumo sacerdote em seu lugar e governava o país com as cidades que ali se achavam, escreveram-lhe placas de bronze, para renovar a amizade e a aliança , outrora concluída com seus irmãos Judas e Jônatas. Essa mensagens foram lidas diante da assembléia em Jerusalém. Eis a cópia daquela que enviaram aos espartanos:(...)"

   "Em seguida, Simão enviou Numênio a Roma com um grande escudo de ouro, que pesava mil minas, para firmar aliança com os romanos."

   Essas alianças antigas foram esquecidas pelos romanos. Quanto a Pompeu, foi visto como um saqueador do Templo de Jerusalém e como Júlio César o venceu foi bem visto pelos judeus. Prova disso se encontra no livro "A Vida dos Doze Césares" do historiador romano Seutônio que viveu entre 69 d.C a 141 d.C. Ele registra que os judeus residentes em Roma lamentaram muito o assassinato de Júlio César veja o trecho:

   "(...) Em meio a este grande luto público, uma multidão de delegações estrangeiras veio evidenciar seu pesar, cada uma por sua vez e á sua maneira. Principalmente os judeus, que velaram a pira durante várias noites incessantemente."

   O domínio de Vespasiano sobre Jerusalém foi sua vitória mais celebrada. Seu filho Tito celebrou tal conquista registrando-a em um "arco do triunfo" no qual figura os romanos levando uma "menorá" o castiçal de sete braços furtado do Templo de Jerusalém, veja:
   Voltando a Josefo, é possível encontrar muitas curiosidades em seus livros. Em seu "História dos Hebreus" ele justifica o motivo de escrevê-lo devido a ter visto versões gregas de escritos judaicos e assim resolve fazê-lo também em grego que era a "língua culta" da época. É narrado desde o livro de Gênesis por isso não difere muito da Bíblia mas com uma interpretação própria dele. Em relação a longevidade das primeiras gerações após Adão que viviam segundo a Bíblia até mil anos, Josefo afirma que isso era devido a alimentação da época e que outro motivo dessa longevidade era para eles poderem calcular um ciclo astrológico de 600 anos. No episódio da arca de Noé, ele afirma que após o dilúvio a arca estacou em uma montanha da região da Armênia e que ainda na época em que escrevia os habitantes da Armênia tinham acesso a pedaços da arca cobertos com betume, o hipermeabilizante com a qual ela foi recoberta. Ele narra sobre a partilha do terra pelos filhos de Noé (essa partilha era do conhecimento de Salomão. No "Kebra Nagast" Salomão se refere as regiões governadas pelos filhos de Noé e as nações que herdaram tais regiões). Josefo registra que Abraão saiu da Caudéia e que tinha grande conhecimento astronômico que ele mesmo propagou no Egito pois os egípcios tinham esquecido (o conhecimento iniciático de Abraão merece ser abordado melhor em outra postagem). Josefo fala sobre o poder de Salomão sobre os demônios o que evidência que os judeus estavam cientes dessa tradição, embora a Bíblia cristã nada diga a respeito, veja o trecho de Josefo sobre Salomão:

   "Esse grande soberano compôs cinco mil livros de cânticos e de versos, três mil livros de parábolas, (...) Deus lhe concedeu perfeito conhecimento da natureza e de suas propriedades e ele escreveu um livro no qual empregou esse conhecimento em compor, para utilidade dos homens, diversos remédios. Alguns deles tinham até mesmo força para expulsar demônios, que não se atreviam a voltar. 
   Essa prática está ainda em uso entre os de nossa nação. Vi um judeu chamado Eleazar, livrar diversos possessos, na presença do imperador Vespasiano, de seus filhos e de vários oficiais e soldados. Ele prendia ao nariz do possesso um anel no qual estava fincado uma raiz, a mesma que Salomão se servia para aquele fim. Logo que o demônio a cheirava, arremessava o doente por terra e o abandonava. Ele dizia então as mesmas palavras que Salomão havia deixado por escrito e, fazendo menção desse príncipe, proibia ao demônio voltar. Para fazer ver ainda melhor o efeito das conjurações, enchia uma vasilha de água e ordenava o demônio que a lançasse por terra, como sinal de que havia abandonado o possesso, e o demônio obedecia. Julguei bem relatar essa história a fim de que ninguém possa duvidar da ciência assaz extraordinária, que Deus concedeu a Salomão como graça particular."

   Esse aspecto oculto de Salomão visto do ponto de vista judaico merece ser tratado em outra postagem futura. Também em relação a Jesus, Josefo deixou registro veja:

   "Sobre este tempo viveu Jesus, um homem sábio, se é que podemos chamá-lo de um homem. Pois ele foi o realizador de feitos extraordinários e era um professor daqueles que aceitam a verdade com prazer. Ele conquistou muitos dos judeus e muitos dos gregos. Ele era o Messias. Quando ele foi indicado pelos principais homens entre nós e Pilatos condenou-o para ser crucificado, aqueles que tinham vindo a amá-lo originalmente não deixaram de fazê-lo, pois ele lhes apareceu no terceiro dia, ressuscitou, como os profetas de antigamente haviam predito essas e muitas outras coisas maravilhosas a respeito dele, e a tribo dos cristãos assim nomeados após ele não desapareceram até hoje."

   Assim sendo, foi de Josefo que veio uma das mais antigas citações a Jesus de origem judaica. Todos os trabalhos de Josefo merecem serem estudados e são uma grande fonte de informação sobre tradições antigas dos judeus, embora seus críticos afirmem que não são totalmente confiáveis. 

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