O PROFETA ELIAS, UM DOS IMORTAIS
Olá pessoal! Nesse post vou falar sobre algumas tradições que envolvem o profeta Elias.
No post anterior eu havia falado um pouco sobre o estado mental "profético" um estado mental muito avançado e alcançado pelos grandes adeptos através do qual eles conseguem realizar grandes feitos. Eu havia mencionado que Elias se valia de uma posição especial colocando a cabeça entre os joelhos para se alcançar esse estado e também falei sobre que as técnicas do cabalista Abraham Abuláfia eram capazes de induzir a estados semelhantes a este, motivo de seu sistema costumar ser chamado de "cabala profética". Mas nesse post vou falar especificamente sobre o profeta Elias.
O profeta Elias viveu, de acordo com com a Bíblia, durante o reinado de Acab que seria em meados do séc. IX a.C. Ele teve que enfrentar a idolatria que ainda insurgia entre os judeus e realizou grandes prodígios. No fim, de acordo com a Bíblia ele foi arrebatado. Isso era algo sobre o qual ele mesmo estava bem informado, assim como também o sabiam seu discípulo Eliseu e os filhos dos sacerdotes. O que a Bíblia conta é que os filhos dos sacerdotes ficaram ao longe enquanto Elias atravessou o rio Jordão abrindo suas águas com seu manto, acompanhado de Eliseu. Elias disse a Eliseu para pedir a ele algo antes dele "partir" e Eliseu pediu "uma porção dobrada do teu espírito" (inspiração profética). Elias respondeu que se ele fosse capaz de enxergar quando ele fosse arrebatado isso lhe seria dado. Então surgiu um carro de fogo e arrebatou Elias aos céus sendo que seu manto caiu e Eliseu viu tudo recolhendo o manto de Elias e partindo as águas do Jordão em sua volta. Assim, Eliseu passou a ser portador da mesma inspiração profética de Elias e a realizar feitos tão extraordinários quanto os dele. Esse é um episódio que permite muitas interpretações, as mais aceitas são as que dizem que Elias não morreu, foi "elevado" a outro plano de existência, transcendendo a existência física, se tornou ascensionado. Assim sendo, considera-se que ele não morreu. O mesmo se diz a respeito do patriarca Enoch, que ele não morreu. Dessa forma, Elias tornou-se um dos imortais. Representação de Elias sendo arrebatado e deixando seu manto cair:
Existem muitas tradições a respeito de indivíduos que alcançaram esse estado, pelo menos sobre dezenas de personagens com esse perfil até onde sei. Falei sobre alguns desses no post em meu outro blog: https://ricardodias7.blogspot.com.br no post de título "IMORTAIS". Sobre Enoch, é curioso que é citado no clássico "Drácula" de Bram Stoker. Passa despercebido pela maioria dos leitores que Stoker foi membro da Golden Dawn, notória sociedade esotérica do séc. XIX e que sua obra está repleta de referências veladas a princípios ocultistas bem fundamentados, a maioria não tem capacidade de distinguir esses detalhes e na verdade ficam demasiado envolvidos pela fantasia da trama desatentos a isso. No livro há um personagem que foi internado no hospício chamado Renfield, ele acredita que é possível prolongar sua existência comendo outras criaturas asquerosas como moscas e aranhas. Estava tão certo de sua crença que em uma parte de um diálogo com o médico que cuidava do lugar declarou que "-saiba que, quanto aos assuntos terrestres, ocupo a posição que Enoque ocupou quanto ás coisas espirituais." O médico perguntou: "Porque Enoque?" ele respondeu "-Porque andou com Deus." o médico pensa consigo "-Não consegui descobri a analogia(...)." O louco Renfield comparou a si mesmo com Enoque porque achava que poderia "evitar a morte" como o patriarca o fez, e mesmo a ideia de que "sangue é vida" ele havia tirado da Bíblia, livro de Deuteronômio onde se diz que não se deve comer um animal sem abatê-lo corretamente pois a "alma está no sangue". São alguns detalhes chave que creio a maioria nem sequer se deu o trabalho de notar ou refletir na obra de Stoker. Mas, voltando a Elias, a partir de então ele passou a ser considerado um imortal, um ser ascensionado, e a tradição judaica fala de muitos episódios mesmo em época relativamente recente em que Elias se manifesta a algum adepto. Ele desapareceu misteriosamente assemelhando-se a outros como o indiano Mahavatar Babaji que segundo consta, se manifestou para Paramahansa Yogananda, personagem influente no movimento "Nova Era" dos anos 60. Outro personagem com perfil semelhante foi Shankaranchaya também chamado de Shânkara, ele foi um reformador do hinduísmo e autor de muitos livros que teria vivido em meados do séc. VIII d.C., e, segundo Blavatsky, se isolou em uma gruta no Himalaia sem se submeter a morte. Muito semelhante também ao personagem conhecido na tradição árabe como El Khidr, o "Homem Verde" que aparece no Alcorão cap. 18. A tradição sufi, vertente esotérica do islamismo narra muitas histórias nas quais El Khidr apareceu fisicamente para alguns califas do passado e também para alguns místicos sufis.
O grande pesquisador russo Zecharia Sitchin (1920-2010) viveu e estudou em Israel, e esteve bem familiarizado com as tradições a respeito da imortalidade de Elias. Em seu livro "Fim dos Tempos" ele fala sobre a ceia cerimonial que é celebrada na noite do primeiro dia da páscoa judaica. Nessa ceia, é costume colocar uma taça com vinho simbolicamente para Elias sobre a mesa, a porta é deixada aberta e um hino especial é recitado, ele é considerado quase como um "Papai Noel"!. Assim, as crianças judias crescem acreditando que Elias ainda está vivo e um dia retornará para anunciar a vinda do "Messias" (levando-se em conta que boa parte dos judeus não considera que Jesus foi esse Messias).
Dentro da cabala, assim como eu mencionei anteriormente sobre o sufismo e a manifestação de El Khidr para os adeptos, se considera que Elias se manifesta para os grandes cabalistas. Todos os grandes cabalistas do passado incluíndo Abraham Abuláfia e Issac Luria diziam que Elias se manifestou para eles. O rabino Josef Saragossi (1460-1507) responsável por começar a transformar a cidade de Safed em Israel em um centro de estudos cabalísticos disse que Elias apareceu para ele. Veja essa citação do livro "Meditação e Cabalá" de Aryeh Kaplan:
"O autor do 'Sêfer Charedim', um jovem contemporâneo, escreveu: 'Josef Saragossi, professor do Rabdaz, sempre trouxe paz entre os homens e seus vizinhos, entre marido e mulher, e até mesmo entre gentios. Ele foi merecedor de ver o profeta Elias.'"
Por isso, a visão de Elias costuma ser considerado algo que os grandes cabalistas tem que fazer por merecer para que ele se manifeste, e também se considera que ele guia e incentiva os grandes estudantes cabalistas a persistirem para alcançarem mais conhecimento e divulgar a cabala aos interessados.
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